Mariana Paiva
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Dois dos maiores educadores da Bahia, Anísio Teixeira e Edgard Santos |
Desafio aceito e realizado - sem, entretanto, ser uma biografia no tom tradicional -, o autor lança, na próxima quinta-feira, o livro Edgard Santos e a Reinvenção da Bahia, da Versal Editores.
O trabalho retrata a trajetória do criador e primeiro reitor da Universidade Federal da Bahia, cargo que ocupou por 15 anos, de 1946 a 1961. O livro estará nas livrarias a partir do próximo sábado, mas tem pré-venda exclusiva no site www.corujabooks.com.br.
Sem vida pessoal - Ao longo de 476 páginas, incluindo textos e fotos de sua vida (aqui entendida como sinônimo de obra), a personalidade de Edgard Santos é revelada para o leitor. "A ideia inicial era mesmo fazer uma biografia do velho. Mas eu vi que não dava. Edgard não tinha "vida pessoal", no sentido em que as pessoas empregam a expressão", Risério considera.
Assim, a solução encontrada pelo autor para escrever sobre Edgard Santos foi obedecer à ordem que já existia: vida e obra misturadas, circundadas ainda pelo ambiente da época. "Sua vida era o seu fazer, a soma de suas intervenções objetivas no mundo. Seus contemporâneos não sabiam praticamente nada de sua infância, sua juventude, seus sonhos e desejos. Ele só falava de seu trabalho".
O mesmo homem que mantinha relações estreitas com as tradições da oligarquia baiana também foi o responsável pela expansão das artes no estado, trazendo modernização para a Universidade Federal com a presença de nomes como Lina Bo Bardi, Hans Joachim Koellreuter e Pierre Verger.
Encantamento - Para Risério, a aparente contradição do reitor pouco importa: "Não tenho problema com contradições. As pessoas mais brilhantes que conheci pessoalmente, de Haroldo de Campos a Darcy Ribeiro, eram cruzadas por elas. A tal da coerência absoluta, indo quase da infância à velhice, é que não me atrai. Regra geral, é fruto da desinformação, da preguiça mental e até mesmo da burrice".
Risério conta que estas contradições são também uma razão de seu encantamento pela história do reitor. "Veja suas relações com Portugal: ele se movia bem entre os mais reacionários salazaristas e, ao mesmo tempo, contratava adversários e exilados da ditadura portuguesa de então".
Para Risério, Edgard foi "filho de sua época". "Fez parte de uma geração muitíssimo interessante, sendo amigo-companheiro de personalidades tão diferentes entre si quanto Anísio Teixeira, Rômulo Almeida e Clemente Mariani. Eles integravam uma fascinante facção de classe. Uma elite estratégica, modernizante, que queria promover uma atualização histórica e cultural da Bahia".
Contexto - Além de apresentar um perfil de Edgard Santos, o livro explora o entorno de sua vida, expresso pelos contextos social, econômico e político nos quais ele estava inserido.
Nos últimos anos do século 19, quando ele nasceu, a cidade de Salvador já tinha cerca de 200 mil habitantes e buscava a todo custo uma maior modernização.
Esta, aliás, é apontada por Risério como uma das razões que pode ter levado Edgard Santos a ter um pensamento modernizador: "Acredito que tudo isso deve ter marcado Edgard, em profundidade, de modo explícito ou subliminar, nos diversos planos e meandros de sua consciência. Vertentes da tradição e da 'mecânica do século'", escreve o autor na página 47.
Manifestações - Dentre as histórias com as quais Risério se deparou ao escrever, uma atraiu sua atenção. "Tive de parar para pensar diante do quadro de Edgard ferido por manifestações estudantis. Aquela esquerda universitária hoje se penitencia disso, mas combatia agressivamente o reitor sob a acusação - imagine: a acusação - de que ele dava importância demais à cultura".
Na ocasião, Risério conta, os manifestantes chegaram a levar cartazes para as ruas em que diziam "Abaixo as bichas do reitor!", referindo-se aos alunos da Escola de Teatro, que Edgard Santos deixara aos cuidados do diretor Martim Gonçalves. Outro episódio que Risério cita é aquele em que Edgard teria financiado uma revista de esquerda.
"Achei também muito interessante a conversa dele e de Jorge Amado, que conta que ele passou dinheiro, sem que soubessem, para uma revista universitária de esquerda, em que Glauber Rocha escrevia. Jorge dizia que ele admirava Glauber", afirma.
Informações A Tarde
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