2 de janeiro de 2012

Projeto Estudantil completa 06 anos sem a devida atenção do Poder Público

Sede do CELS, onde vários estudantes conseguiram seguir seus estudos
O CELS apoiou a cultura popular em Serra Preta
Parte interna do CELS, espaço limpo e com riqueza de informação
Janeiro de 2012, o projeto do CELS (Centro Estudantil Lucas Silva) fará 06 anos de inaugurado em Feira de Santana. O Centro foi fundado pelo Historiador Mário Ângelo S. Barreto e financiado por Lucas, filho de Sr. Didino e que atualmente mora nos Estados Unidos. 

O CELS foi à primeira Casa de Estudante de Serra Preta, voltada para estudantes de baixa renda, impossibilitados de freqüentar uma Faculdade em grandes centros urbanos. Em dois anos, o CELS funcionou a todo vapor. O Centro, além de oferecer as 03 refeições e moradia digna, contava com uma política pedagógica e processo seletivo para ingressar na Casa. 

“O CELS era uma entidade particular, mas que tornamos seu objetivo de interesse público”, comenta Mário Ângelo, que assumiu a função voluntária de Diretor Administrativo do Centro. “Eu era responsável pela função pedagógica do espaço e representava o CELS externamente, junto com a Comissão de Representação. Tínhamos estatuto, Assembleia Geral e prova de avaliação interna e externa. O rigor na disciplina foi uma herança das Residências da UFBA e utilizei como referência. Lidávamos com jovens e não é fácil a convivência em um lar com pessoas diferentes de nossa relação, costumes, religiosidade e visão de mundo diferente. Deu certo, embora muitos alunos ficaram chateados com as regras. Mas posso dizer que não favoreci ninguém, nem mesmo parentes”, avalia Ângelo.

ENTENDA MAIS O QUE ERA O CELS ATRAVÉS DE UM BATE PAPO COM MÁRIO ÂNGELO.

Como surgiu a idéia do CELS?

Na verdade, o CELS é a síntese das lutas dos estudantes, que eu fazia parte, por uma moradia em Salvador para estudar. Exigíamos do poder público a compra de uma residência para os estudantes de baixa renda cursarem uma faculdade. Vários municípios já possuíam, mas quem governava Serra Preta colocava dificuldade. Parece até a história atual do sinal de celular. Todos municípios têm, mas a gente é os últimos a ter, embora seja próximo de Feira de Santana e Salvador. Voltando ao projeto, no início tentaram nos ignorar, mas convencemos a população da importância. Durante a campanha de 2000 para prefeito, todos os candidatos majoritários se diziam favorável ao projeto. Dr. Benedito foi eleito prefeito e abriu um canal de diálogo com os estudantes, visitei com o prefeito algumas casas em Salvador, mas gradativamente o gestor abandonou o projeto. Em 2004, Antonio Carneiro foi eleito e pouco se interessou pelo projeto. Foi então que Lucas Silva, de férias em Serra Preta, elogiou o projeto e solicitou que eu fizesse um orçamento da uma Casa em Feira de Santana.

Como foi o início do CELS?

Assim que entreguei o orçamento, Lucas viu que dava para bancar por um período. Ele avaliou que uma vez a entidade funcionando ficava difícil de acabar. Eu e ele fomos a Feira e compramos os móveis básicos para a Casa. Alugamos uma casa de classe média e bem localizada na cidade. Fiquei responsável em montar a estrutura pedagógica. Neste momento já contava com alguns alunos interessados em morar e eles me ajudaram a criar o estatuto e as regas de convivência. Abri um edital de inscrição e foram selecionados os estudantes dentro dos critérios.

Foi fácil a moradia?

Nada é fácil. Tudo só acontece com muito trabalho. Alunos exageravam na tolerância, outros desenvolviam a capacidade de liderança, alguns se dedicavam apenas aos estudos, enfim, o CELS era um centro de convivência com todos os conflitos possíveis de uma relação humana. Eu tentava intervir o mínimo possível, mas sempre que fosse necessário, fazia o papel de administrador funcionar. Sei que alguns não gostavam das medidas duras, porém eram necessárias. 

Mas e os resultados?

Os resultados foram excelentes. Muitos cursaram faculdades e cursinhos de respeito. Fizeram amizades dentro da casa, evoluíram enquanto ser humano, eventos foram feitos no município e souberam negociar com a prefeitura sobre a compra da Casa.

Isso... fale para a gente como se deu a passagem do CELS para a prefeitura?

Os dois anos que Lucas garantiu bancar estavam se esgotando. Sabendo disso, os moradores do CELS negociaram com o prefeito Antonio Carneiro a necessidade do CELS se tornar público. O próprio prefeito negociou com os estudantes e depois colocou Gil de Celé como intermediário. O prefeito vendeu o prédio da antiga delegacia do Bravo e parte dos recursos comprou uma casa modesta, mas boa, no Feira VI. Doamos as camas, sofá, televisão, fogão, geladeira, mesas com cadeira, enfim, os móveis do CELS para a prefeitura e esta se comprometeu a manter as regras e o processo seletivo para estudantes de baixa renda.

E a prefeitura cumpriu?

Pouco. Nunca fez seleção, sempre os alunos tinham dificuldades nos mantimentos. O projeto pedagógico também foi literalmente abandonado. Assim que a Casa se tronou pública, passei cópia do estatuto e outros documentos para a Secretária de Educação, mas ela nunca entrou em contato comigo. Em poucos meses, a Casa caiu a qualidade. Qualquer um morava ou se hospedava na Casa. O critério passou a não ter critério. A prefeitura não fez mais seleção e a Casa passou a ser uma invasão. Quando Adeil foi eleito prefeito a coisa ficou pior. A prefeitura abandonou de vez. Hoje, o projeto está liquidado, fizemos até uma reportagem sobre o assunto há alguns dias (veja o vídeo abaixo).

Podemos dizer que o projeto faliu?

De forma alguma. Fizemos uma verdadeira revolução silenciosa com os jovens. Muitos que hoje têm uma profissão agradeçam ao CELS. Somos referência de ascensão social através do estudo. Até hoje, temos estudantes na UFBA e muitos se formando na UEFS, que partiram do projeto. Em vez em quando recebo um convite de formatura. O que posso dizer é que o projeto parou de receber investimentos, mas tudo pode voltar mais forte e até melhor que o CELS. Aproveito para cobrar dos estudantes atuais de Serra Preta que cobrem dos governantes a revitalização do Centro, pois o futuro de vocês não é ficar sentados no jardim em aula vaga, mas sim movimentando estrutura que possibilite o desenvolvimento do saber.

Colaborou: Janaina Barreto

Assista ao vídeo do projeto atualmente


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2 comentários:

  1. Eu não conhecia, nem nunca tinha visto falar desse projeto, a cada dia vc me surpreende mais. Parabéns Mário!Desejo feliz 2012!!!

    Rita de Cássia

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  2. Meu Deus, como um prefeito deixa um projeto desse morrer? Tudo que Serra Preta tinha está se acabando. Vamos reagir meu povo!

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