4 de julho de 2011

Entrevista com Mário Ângelo

"Todos que se lambuzam no poder como figura menor perdem credibilidade com o povo".

"O nosso grande papel em Serra Preta foi estimular a juventude a estudar e ter a sua própria liberdade".

"O que acho traidor é assumir o papel de canalha e tentar pousar de coerente".

  Leia a entrevista que o professor Mário Ângelo S. Barreto, Historiador e também blogueiro, deu para o nosso blog. Ele falou da política de Serra Preta, suas expectativas, a divisão do PT e formação de liderança e muito mais. Vale à pena conferir.
Mário Ângelo é um dos fundadores do PT de Serra Preta e é contra o aluguel do partido em troca de uma Secretaria

Pergunta: Você é um dos fundadores do PT de Serra Preta. Você acha que o partido abandonou seus princípios?

MA – A política é dinâmica e cheia de surpresas. Quando fundamos o PT em 1994 foi uma experiência fantástica. Estávamos fazendo uso da abertura que a Constituição de 1988 nos garantia. Tínhamos em mente a possibilidade de estender o processo democrático em Serra Preta. Antes da gente, as críticas eram abafadas e duramente reprimidas. A gente passou a criticar os caudilhos de peito aberto. A estratégia era concretizar a liberdade de expressão. Fizemos inclusive criticas diretas ao falecido ACM em comício em Bravo. Claro que teve repressão, mas superamos. Outra luta importante, depois da fundação do PT, foi o estímulo a Educação. Acreditávamos que um partido político iam além da disputa eleitoral. Montamos o curso Marx para estimular os estudos e debater temas socializantes. Desse ponto de visto, fomos vitoriosos e cumprimos o papel, inclusive pessoalmente. Todos que estavam envolvidos diretamente cresceram pelas vias educacionais. Alguns fizeram faculdade, outros passaram em concurso público. Mas não estávamos preparados para as armadilhas da política burguesa. Serra Preta é um município pobre e nem todos estão dispostos a manter uma coerência. Na medida em que disputávamos as eleições e os resultados eleitorais não eram o esperado, era comum alguns filiados apoiarem o poder local. Foram vários que assim se comportaram em diferentes momentos dos nossos 17 anos de luta.

P: Mas o apoio ao Governo Adeil é diferente. Ele conta com o apoio de um vereador do Partido, da Executiva...

É verdade. E lamentável também. Mas quem mantém a coerência não deve se preocupar com isso. Claro que devemos reprovar e explicar o que acontece para a população. Mas todos que se lambuzaram no poder como figura menor perderam a única coisa que talvez a gente soubesse regar durante anos, que foi a moral política. O tempo dá a resposta para tudo. A população está mais atenta do que em outros momentos. Antes, não tínhamos acesso à mídia; hoje é outra realidade. E sinceramente, eu não vejo problema algum os que desejam um emprego ou posição política tomarem atitudes assim. Quem assume o tal papel sabe que tem o preço da credibilidade. O que acho traidor é assumir o papel de canalha e tentar pousar de coerente, bom mocinho, vendendo a preço de banana a história de resistência que construímos no imaginário popular. Isso é um crime para as novas gerações. Mesmo no controle da legenda, eles deveriam poupar nossa história. Vão defender Adeil como, se em campanha a gente dizia que ele era ruim para o povo e assim está sendo?!

P: Mas é uma tendência nacional. O PT nacional e estadual diziam uma coisa e hoje fazem outra, não é verdade?

Filiamos ao PT para defender o socialismo e combater quem enganam o povo. Ou seja, nos colocamos acima de sigla. O sectarismo era o que mais a gente discutia. Hoje, como nunca, estou mais liberto de controle de grupo. Minha postura libertária, em diversas ocasiões, é distorcida por quem deseja me atingir. Mas respondendo a pergunta, avalio que o PT, tanto nacional e estadual,  fez uma opção da ampla aliança para ganhar as eleições e a direção atual do PT de Serra Preta fez o amplo apoio a Adeil. É diferente. São meros empregados. Isso não quer dizer que o PT nacional acertou com a ampla aliança. Acho que foi prejudicial à formação crítica para as novas gerações. Hoje, há um pensamento generalizado que todo político é igual e não merece a confiança. O que importa é ganhar as eleições. Quem pensar diferente deve cair fora. O PT hoje, de modo geral, ficou difícil o debate. Antes todos nós éramos iguais; agora o partido passou a contar com “baixo e alto clero”. Quem tem cargos públicos ou é parlamentar passaram a impor a sua vontade e tem tempo disponível para isso.

P: Voltando a Serra Preta, você não ver nada de positivo no grupo do PT apoiar Adeil?

Vivemos um momento de transição, onde quem deseja fazer política em Serra Preta precisa recompor. Penso que o grupo que originou o PT de Serra Preta se esgotou. A crise do PT não começa agora, mas sim na disputa entre Antonio Jorge e Cal por espaço dentro do partido. A crise ganhou força no PED, que por sinal sou contra, e se ampliou agora com a adesão a Adeil. De positivo, vejo em parte para o prefeito, que contou nos dedos e viu vantagem tipo assim: - pago um secretário, alguns funcionários e eles se viram para trazer recursos do Estado para eu administrar. Adeil pode ter algum problema com sua base fiel, que fizeram campanha e ficaram de fora ou não foram prestigiados como queriam.  Já para o PT é prejuízo. Dividiu o partido e ficou sem crédito com a população. O bom talvez seja para o vereador Edmilson que agora não precisa fingir que é oposição e para Paulo Sérgio que passa a ter uma visibilidade. Sérgio terá carro e gasolina a sua disposição para rodar o município. Ele pode ser a única alternativa para candidato a prefeito do grupo de Edmilson. O próprio Sérgio tem consciência disso e em e-mail afirma a uma colega que deseja usar o máximo de espaço do Governo de Adeil. O problema é achar que Adeil é burro.

R: Como fica você para 2012?

Continuarei articulando e juntando gente. Time de futebol que desmancha a sua base de uma hora para outra tende ao fracasso. A minha base é a composição de forças que lançou Angélica na eleição passada. Sofremos baixa de figurões, mas ganhamos credibilidade e força para uma disputa melhor. A candidatura de Zelito para Deputado foi importante para analisarmos o tecido social para 2012. Mas como afirmei antes, política é dinâmica e temos que avaliar a todo o momento.

E sua participação no PT de Serra Preta?

Hoje sou um filiado do PT, que milito além das fronteiras de Serra Preta. Estou conversando com diversos amigos do PT de Salvador e regional.  Encontrei solidariedade de diversas tendências do partido. Fiz amizade com o grupo “militância vermelha”, que também foram surpreendidos com o apoio a Adeil. Conheci militantes que jamais imaginava conhecer. Recebi convite para militar em Salvador. Outros me estimularam a acionar o Conselho de ética do PT Estadual. Há convite para se filiar no PCdoB, PV, PSB... (Risos). A coisa é complexa. Na política temos que usar o tempo também. Só não vou abrir mão de defender as minhas idéias abertamente.

P: E o chamado “grupão”, onde reúne Antonio Carneiro e Zelito, será possível?

Eu faço política pensando em superar os gargalos sociais e estruturantes que Serra Preta tem dificuldade em vencer. O grupão tem voto suficiente para ganhar as eleições em 2012. Antonio Carneiro ainda domina a maioria dos servidores públicos. Zelito tem seu eleitorado fiel. Benedito ainda tem espaço político interessante em várias zonas do município e tio Dozinho também ainda tem seu eleitorado. Se política fosse matemática, você percebe como ta fácil ganhar as eleições. Ainda não coloquei na balança o desgaste de Adeil. Mas nada disso me interessa se a gente não tiver um projeto político para ser aplicado. Não entro no jogo eleitoral apenas para beneficiar figurões. Se as lideranças estiverem dispostas a se unir em torno de um bom nome, ótimo. Mas se cada um deseja superar o outro, o chamado “grupão” é apenas uma peça de ficção. Vamos aguardar a concretização dos fatos.

P: E sua amizade com Zelito...

Não posso negar que converso bastante com o Prof. Zelito, sobre diversos temas atualmente. É uma pessoa que defende suas idéias abertamente. Eu gosto, mas deixa algumas lideranças assustadas, pois a hipocrisia ainda tem grande valor na política de Serra Preta. Se você for analisar o passado, verá muitos acertos e erros de Zelito, mas perceberá que ele tinha um projeto administrativo. Comecei fazendo política apostando no futuro, mas muitos caíram no benefício pessoal assim que seu nome ficava em evidência. Cheguei à conclusão que não posso apostar em qualquer um. Hoje, percebo que o melhor é reunir as pessoas que tiveram algum tipo de provação e se permaneceram firmes. Zelito é um desses e por isso que merece a minha credibilidade.

P: Mas pensando assim você acaba com a renovação, não acha?

Engana-se. A renovação sempre andará em curso, mesmo que lenta. A análise que fiz anteriormente é respeito à liderança para conduzir um processo administrativo e de transformação. A juventude tem seu espaço e não abro mão disso, mas a sua capacidade de liderar grupo e conduzir projetos político-administrativos dependerá de ações ética e de coerência entre o discurso e prática. Isso não aprende só na escola. Talvez, na escola de hoje só se aprende o discurso. A prática da coerência se aprende no mundo vivido diariamente, experimentando espaço de poder como em associação, grêmios estudantis, vereador etc. São esses espaços que abrem margens para a gente conhecer quem as pessoas verdadeiras são.

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2 comentários:

  1. Òtima entrevista, parabens Mário Ângelo, voce tem futuro o povo de Serra Preta tem que se concientizar sobre as suas idéias. Deus te guie assim!
    Abraços do Amigo: Déa Vasconcelos

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  2. Parabéns, professor. o sr deveria ser candidato a deputado no lugar de zelitinho. Nao tenho nada contra a ele, mas o sr mostra mais preparo. Espero que deus guarde muitas vitorias por sr e para nosso povo.

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