10 de março de 2012

Reserva Natural da Caboronga corre risco de ser extinta

As feiras livres de Ipirá, Bravo e outras localidades foram, durante anos, abastecidas por produtos cultivados na Caboronga

Cinturão verde de mais de 5 km de extensão forma a reserva da Caboronga
Oasis em plena seca da caatinga resiste a agressão humana há anos

Um cinturão verde, rico em água e frutas, em pleno sertão baiano resiste à agressão humana. A Reserva Natural da Caboronga, localizada no município de Ipirá, 205 km de Salvador, é um lugar impressionante. No meio da caatinga, mas nada semelhante à vegetação xerófila, a Caboronga é uma dádiva de Deus.

Cravada na Serra que leva o mesmo nome, a Caboronga sempre foi uma zona estratégica para a ocupação humana. Ainda hoje há registro que povos aborígenes, os Paiaiás, habitaram o local. Zona verde e com presença de água durante o ano inteiro, certamente, a Caboronga foi palco de diversas disputas pelo seu controle. Mesmo hoje, o interesse em se apropriar das ricas terras da reserva é real.

A água cristalina brota(va) com facilidade em vários pontos da Caboranga durante o ano inteiro. A reserva conseguiu superar secas terríveis que o semiárido sofreu. A abundância de seu lençol freático era tão grande, que durante anos, servia como principal fonte de abastecimento de água para a cidade de Ipirá. Moradores dizem que a Embasa, há décadas, ganhou muito dinheiro explorando a reserva.

Com a chegada dos portugueses na região, os Paiaiás deram lugar aos fazendeiros, que fizeram da reserva uma rica chácara onde de tudo que se planta dar. Diversos tipos de frutas ainda são possíveis encontrar na reserva. “A Caboronga era quem abastecia as feiras livres de Ipirá, Bravo e outras localidades próximas”, diz o nativo José da Silva Soares.

Decadência


Queimadas constantes aceleram o processo de destruíção da Caboronga
Extinta nascente de água doce da Caboronga, que deu nome a reserva
Depois que o lençol freático da Caboronga secou, a reserva entrou em declínio. Para “Seu Nego Velho”, 80 anos, o fim da Caboronga é um "destino de Deus". O morador busca na religiosidade explicações para o abandono e a exploração irresponsável dos homens, que se apropriaram da reserva durante anos.

A Caboronga, que foi um lugar alegre e bastante habitado, hoje conta apenas com 04 famílias morando na reserva. Baé é um dos que resiste a degradação do local. Ele possui esposa, filhos e netos morando na Caboronga. Segundo Zé Mário, um dos frequentadores e defensores da Caboronga, Baé é tão apaixonado pela reserva, que até risco de morte sofreu defendendo o equilíbrio do local.

Israel Santos Ribeiro, filho de Baé, diz que há poucos moradores na Caboronga, mas isso não significa abandono. Moradores antigos migraram, mas a reserva ultimamente é local de esconderijo para quem pratica crimes em Ipirá e outros locais. A insegurança é total no local. A reserva também recebe visitas de pessoas estranhas, que aparecem apenas para colher frutas. Nós mesmos encontramos um menor, que se diz morar em Ipirá, 10 km da reserva, e se identificou com o nome de Antônio Carlos. O menor tem parte do rosto deformado por queimadura. Diz que quando bebê a vela o queimou. Não frequenta escola e sempre aparece na Caboranga para se alimentar com frutos.

Antônio e a Caboronga há algo semelhantes: ambos foram abandonados por quem tem o dever de cuidar. A Caboronga ainda resiste, assim como o jovem. Mas o poder público pouco faz para mudar essa triste realidade. Moradores dizem que todo primeiro de maio há uma passeata em defesa da reserva, mas políticas públicas de fatos ainda não ocorreram.

Assista ao vídeo sobre a reserva

4 comentários:

  1. Excelente reportagem, Mário. O blog está cada vez mais profissional. Parabéns!

    Carlos Eduardo

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  2. Zelito Leite13 março, 2012

    Conhecer a Caboronga de Ipirá, sempre foi um grande desejo, finalmente no inicio deste mês de março o amigo Zé Mario nos convidou e o Prof. Mário Ângelo se encarregou de registrar aquele oásis, Levei garrafão para trazer para família “o precioso líquido da Caboronga”, que todos os dias na década de 1980, quando trabalhei naquela cidade, chegavam às ruas da Cidade às tropas de jegues carregando os “Carotes d’agua” nos lombos dos animais, água límpida, fresca, doce, leve, simplesmente maravilhosa e o que vimos agora para tristeza de todos, simplesmente, a fonte secou, veja o vídeo e constate o quanto a nossa falta de educação e consciência é prejudicial ao ser humano, parece até que estamos construindo nosso próprio extermínio, nossa estupidez é sem limites, é constrangedor o que vimos naquele lugar, que antes do ser humano pisar ali, Era Sagrado! Hoje, uns poucos proprietários daquela área que deveria ser Uma Reserva Legal, insistem em transformar aquelas terras em pastagens, com a derrubada das frondosas árvores e ateando fogo, mesmo vendo que o lugar não tem vocação para criação de gado por ser montanhosa.
    Claro que conheci nativos como Nego Veio, Baeca e seu filho Israel que vem promovendo eventos no sentido de alertar e defender com unhas e dentes o pouco que ainda resta.

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  3. Boa noite! Meu nome é Michelle Santana, sou sócia da casa dos estudantes de Ipirá, gostei do que o senhor escreveu sobre a mata da caboronga. Gostaria de obter mais informações sobre o assunto, pois pretendemos levar essas informações para a população de Ipirá no dia 7 de setembro de 2013.

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  4. Poderianme decir cual e a orixe do nome Caboronga?
    Gracias

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