31 de janeiro de 2022

Luz no fim do túnel: apesar das dificuldades, mobilização contra a CIP aconteceu em Bravo

Organizadores prometem continuar lutando contra o aumento da energia elétrica em Serra Preta

Tica de Elói, morador na zona rural, classificou a CIP como absurdo 

A mobilização contra a CIP (Contribuição da Iluminação Pública) em Serra Preta aconteceu sábado (29) no distrito de Bravo - maior centro urbano e comercial do município. A CIP foi uma iniciativa do prefeito Franklin Leite (DEM) e aprovada por todos os vereadores em 2021, mas não foi bem avaliada por boa parte da população, já que a Lei aumenta a conta de luz de muitos consumidores. 

O desgaste político latente fez o prefeito encaminhar algumas alterações, através da Lei 607/2022. Basicamente, a nova Lei altera a tabela de cobrança de 30 kwh para acima de 50 kwh e acrescentou mais uma tabela de cobrança para a zona rural, que na Lei Lei nº 590/2021 não existia.

Na prática, os lares e os comércios do município receberam contribuições nada razoáveis na conta de luz. Até o momento, a prefeitura não divulgou nota pública divulgando a totalidade da arrecadação com a CIP, mas jogou a responsabilidade das altas contribuições para a Coelba. O poder publico alega que ocorreu erro de cálculo por parte da empresa. Em nota enviada para o Programa Viva Feliz da Radio Subaé, a Coelba não confirmou o erro. Apenas informou a competência da empresa em relação ao tributo. “Com relação a Contribuição de Iluminação Pública (CIP), a distribuidora atua, apenas, como arrecadadora, direcionando mensalmente os valores para as prefeituras”, parte da nota lida pelo âncora Valter Vieira.    

Revolta

Populares não aceitam pagar a CIP  (Contribuição da Iluminação Pública)
Foto: Internet

Muitos populares passaram a criticar fortemente a CIP nas redes sociais. Numa enquete do Instagram do professor Mário Ângelo Barreto, 91% dos internautas não concordaram com a CIP. Tal insatisfação deflagrou o debate aberto contra a CIP nas redes socais. Um "Comitê Popular Não a CIP” foi criada, através de um grupo de whatsApp com 193 participantes em apenas dois dias. Representantes do "Grupo Mudança de Verdade", como Antônio Pinheiro, Alex Matos, Sandro Sena e Mário Ângelo Barreto, iniciaram uma verdadeira peregrinação debatendo os efeitos danosos da CIP num momento de pandemia. 

Entrevistas na imprensa baiana e nos diversos sites deram um peso na divulgação contra a CIP. Porém, os participantes avaliaram que a mobilização precisava ir as ruas. O primeiro ato foi convocado para o dia 29 de janeiro no distrito de Bravo. Cards espalhados pelas redes sociais anunciavam a concentração para às 8h.

O que aconteceu?

Quem passava pelo centro do Bravo a partir das 8h ficou surpreso com o silêncio dos organizadores. Parecia que a mobilização tinha sido cancelada. Mas não foi. Os organizadores não contavam com a ausência do carro de som oficial. "Eu liguei para o rapaz do carro de som, em pleno sábado, e ele colocou diversas dificuldades para participar, inclusive com medo do carro ser preso. Tudo foi acertado antecipadamente, estava tudo certo, mas o rapaz desistiu em cima da hora", comentou o professor Mário Ângelo Barreto.

Segundo Sandro Sena, é um erro o prefeito não ouvir a população sobre a CIP

Sem carro de som oficial, não tem movimento. A partir daí, a luta dos organizadores foi contratar um novo carro de som em pleno horário da mobilização. Em Bravo e em Ipirá, não se conseguiram contratar nada - até carro de som deu defeito, segundo o proprietário, no momento exato do ato público. A mobilização, já no final da feira livre, foi acontecer a partir das 12:40, sem a presença de dezenas de pessoas que passaram horas antes no local. 

Quem ficou até o fim, dizia que o ato era agora uma questão de honra. De fato, a mobilização aconteceu com a presença de um carro de som da cidade de Anguera. "Nossa mobilização vai acontecer e vamos falar para a população dos prejuízos que a CIP trará aos contribuintes", sustentou o servidor público Alex Matos.

Operação de guerra

População estranhou aparato policial circulando pelo Bravo no dia da mobilização

A ideia da mobilização era sensibilizar o gestor público para revogar a CIP, mas parece que o governo municipal não quer abrir mão dos recursos que vão cair no caixa da prefeitura. Mais do que isso, entendeu a mobilização contra a CIP como uma briga política e encarou os manifestantes como adversários. "É uma pena que o governo municipal não ouve a população. O momento seria de entendimento e de revogação da CIP, mas o governo apostou da disputa desproporcional", disse o geógrafo Sandro Sena.

E foi uma disputa desproporcional mesmo. Dias antes da mobilização popular na praça, o governo municipal investiu muito da disputa digital. Vídeos foram feitos e passaram a circular nas redes sociais, tentando convencer a população que pagar tributo é vantagem. No distrito do Bravo, um carro de som particular divulgava propagada da prefeitura sobre a CIP o dia todo, inclusive no dia do ato popular. Muitos moradores passaram a receber mensagens em seus celulares sobre os possíveis benefícios no pagamento da CIP. 

Card falso espalhado nas redes sociais para prejudicar a mobilização

No sábado (29), dia da mobilização, estranhou quem viu o aparato policial circulando pelo Bravo – parecia uma operação de guerra. Porém, o pior de tudo foi o jogo sujo das fake news, onde partidários do governo local passaram a divulgar nas redes sociais. Numa montagem grosseira, alguns seguidores postaram um card falso avisando o cancelamento da mobilização, causando dúvidas nos internautas.
  
O ato público
A mobilização se tornou uma questão de honra

Mário Ângelo acha injusto retirar dinheiro da população num momento de pandemia

Quem achava que a pressão do governo municipal não ia surtir efeito, enganou-se. Os comerciantes não indicaram representantes para o ato. Assistiram aos discursos de longe, talvez com receio de desagradar o poder municipal. Com o horário avançado, quem ainda restava na praça, acompanhava dos bares e lojas. Restou também um público difuso, mas atentamente ouvia as falas de cada representante que fez uso da palavra.

A moradora Silvia desafia os representantes do povo, mas só Leandro do Carneiro apareceu 

O prefeito não foi visto pelos representantes do
“Comitê Não a CIP” e nem pelo “Grupo Mudança de Verdade” para abrir canal de diálogo. Próximo do ato, num bar, estavam o vice-prefeito Adeil e alguns vereadores. Um dos representantes da zona rural, Tica de Elói, fez uso da palavra e convidou os representantes eletivos para debater a questão da CIP. A moradora do distrito do Ponto de Serra Preta, Silvia, que também se pronunciou, desafiou os políticos de mandato para se defenderem da aprovação da CIP. Nenhum se aproximou do carro de som, com exceção do vereador Leandro do Carneiro (PSD), que fez uso da palavra e se comprometeu a lutar pelo fim da CIP, mesmo tendo votado a favor do projeto que instituiu a contribuição.  

Diante de todos os obstáculos, os representantes avaliaram como positivo o ato de desfecho da primeira de etapa de luta contra a CIP. “A mobilização não foi apenas neste sábado, nem será o último. A mobilização agora volta para as redes sociais, para a mídia até o prefeito conversar com a população e revogar a CIP. Se não revogar, todos perdem. O povo vai pagar a contribuição e o prefeito vai suportar a perda de popularidade, pois a CIP é um tributo que se cobra todo mês” – concluiu o professor Mário Ângelo S. Barreto. 

 "Vamos falar para a população dos prejuízos que a CIP trará aos contribuintes", disse Alex Matos.

Pedro Vieira, presidente do PCdoB, apoia o fim da CIP por considerar injusta para o povo.


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