Câmara de Vereadores de Serra Preta aprova salário de 25 mil para o próximo prefeito

Câmara aprova alto salário para prefeito e vice, mas o atual gestor Aldinho diz que vai vetar

Se depender da maioria dos vereadores, o prefeito eleito, Franklin Leite (DEM) de Serra Preta, município a 160 km de Salvador, vai embolsar 25 mil reais de salário e seu vice, Adeil Figueredo (PP), 12.500 reais durante os próximos 04 anos de mandato. O projeto, sem grandes debates com a comunidade, foi aprovado pelos vereadores correligionários do prefeito eleito, que são opositores ao atual prefeito Rogério Serafim (conhecido como Aldinho) (PODEMOS).

Embora o prefeito eleito disse numa rádio, que não concorda com o aumento para 25 mil reais de subsídio, a sua base (lista abaixo) votou sem nenhum constrangimento. Já os aliados do prefeito atual, Mário de Benedito (PSD), Sérgio Moreira (PT), Magno Souza (PTC) e Vomildo de Cabo Reis (PODEMOS) votaram contra, mas não são maioria. Serra Preta tem 11 cadeiras na Câmara, onde 07 são ocupadas pela oposição ao atual prefeito. Em vídeo, através das redes sociais (ver abaixo), o prefeito Rogério Serafim – que não conseguiu eleger o sucessor – disse que pretende vetar o projeto de Lei que altera os subsídios de prefeito e vice-prefeito.

Em entrevista numa rádio, o prefeito eleito Franklin Leite não concordou com o aumento de salário

Não é fácil obter informações sobre o andamento dos trabalhos da Casa Legislativa de Serra Preta. O projeto pegou a população de surpresa. Parte da cópia do projeto circulou pelas redes sociais, datada no dia 13 de novembro, dois dias antes da eleição, porém, a população só ficou sabendo no dia da votação, 20 de novembro, pelas redes sociais. Muitos internautas chegaram a imaginar que seria fakenews, mas o projeto foi logo confirmado pelos vereadores contrários ao aumento. O projeto original garantia, além do subsídio, décimo terceiro e 1/3 de férias para o futuro gestor, mas em plenário a base do futuro prefeito Franklin Leite concordou em deixar apenas o aumento do salário para 25 mil reais.

Serra Preta é rica?

Embora a cidade de Serra Preta seja de 1722, o município
não consegue desenvolver emprego e renda para todos

O município de Serra Preta está localizado numa das regiões mais pobres do Brasil, semiárido baiano. Segundo o Tribunal de Contas dos Municípios, Serra Preta tem uma receita total de pouco mais de 35 milhões por ano. O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é 5,66, considerado baixo. A população de Serra Preta é de 16.036 habitantes, segundo o IBGE. A principal fonte de renda é os benefícios da previdência social, o comércio local, a agropecuária, os serviços públicos, o programa do bolsa família e a prestação de serviços básicos, como pedreiro, diaristas, eletricistas, etc.

Serra Preta é um dos municípios mais pobres do Brasil economicamente. Dos 5570 municípios brasileiros, Serra Preta ocupa a posição de 3658° no ranking do PIB (Produto Interno Bruto) do país, segundo o IBGE. Embora a cidade-sede de Serra Preta seja de 1722, o município não consegue desenvolver emprego e renda para todos. Os distritos de Bravo e Ponto são as principais praças comerciais do município.

Insensibilidade política

Para muitos candidatos, o amor parece ter ficado apenas na campanha eleitoral

Mesmo com todos esses dados apresentados, os representantes do povo parecem ignorar a grave crise econômico que o município atravessa há anos. Somado ao histórico de exploração, Serra Preta sofre duramente com os efeitos gerados pela pandemia do coronavírus.

Segundo dados oficiais do dia 04 de dezembro, 207 pessoas do município foram infectados com o coronavírus e 08 pessoas morreram. A prefeitura informa que 08 pessoas estão com covid-19, mas 445 casos estão sendo monitorados. Para agravar a situação, a população reclama do fechamento de vários PSFs e a falta do transporte público da área de saúde logo após as eleições. Através de vídeo nas redes sociais (ver abaixo), o prefeito Rogério Serafim alegou não ter recursos para manter a regularidade dos serviços, responsabilizando os vereadores de oposição, que não aprovaram a suplementação desejada. Mas para boa parte da população, trata-se de perseguição política por causa do processo eleitoral. 

Em maio deste ano, o prefeito de Salvador, ACM Neto,
anunciou o corte de 30% no próprio salário de R$24.875  

Na luta em torno da pequena política, o povo perde sem os serviços básicos citados e ainda tem que suportar o aumento de salário para o novo prefeito e vice de 25 mil e pouco mais de 12 mil, respectivamente. Nas redes sociais, a população compara o futuro salário do prefeito de Serra Preta com os subsídios dos gestores das capitais. O professor Sandro Sena classificou como "absurdo e abusivo" a medida. 

Um pouco de pesquisa na internet e não foi difícil encontrar salários menores de prefeito de outros municípios mais desenvolvidos. Para ficar em apenas um exemplo, o prefeito da capital baiana, ACM Neto (DEM), recebe R$ 24.875, segundo o TCM. Salvador é a cidade mais rica da Bahia e a 9° do Brasil, contando com quase 3 milhões de habitantes. Em abril, o prefeito de Salvador anunciou corte de 30% do próprio salário por causa da pandemia, já Serra Preta deseja engordar um pouco mais o bolso do futuro prefeito e vice.

Bancada de vereadores do prefeito Aldinho (contra o projeto)

Mário de Benedito (PSD) 

Sérgio Moreira (PT)

Magno Souza (PTC)  

Vomildo de Cabo Reis (PODEMOS)

Bancada de vereadores da oposição (a favor do projeto)

Fabrício de Fidelis (PP)

Adilson do Jacu (DEM)

Gilson do Tingui (DEM) 

Maduro de Serra Preta (PP) 

Gilmar do Buraco D´Água (PP)

Roque de Vá (DEM) 

Maizo Oliveira (PP)

Vídeo do prefeito atual sobre o subsídio e o fechamento dos PSF

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