9 de outubro de 2018

Saiba quem é o candidato baiano que gastou R$ 700 mil em campanha e não foi eleito

Não faltou material de propaganda e cabos eleitorais na campanha de Raimundinho da JR (Foto: Reprodução)
“Seu Raimundinho, quantos caminhões o senhor tem atualmente?”, perguntamos ao empresário Raimundinho da JR, que foi candidato a deputado estadual pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT). “Rapaz, já perdi as contas. Preciso contar. Mas, posso dizer que são muitos”, disse, com a serenidade de quem, de fato, tem muitos caminhões.

Talvez por isso, Raimundo Ramos de Andrade, 57 anos, tenha acordado nessa segunda-feira (8) pós-eleições com a alma em paz, mesmo tendo perdido o pleito e tendo sido o candidato na Bahia (entre todos os cargos) que mais investiu com recursos próprios na campanha. No total, foram R$ 707 mil. Dos quais, R$ 20 mil doados por terceiros (no caso, um cidadão chamado Milton Barbosa da Silva). O restante, R$ 687 mil (mais de 97%), Raimundinho doou para si próprio.

Como somou 37.047, podemos dizer que o custo por voto saiu por R$ 18. Nem chegou a doer no bolso. “Estou tranquilo. De cabeça erguida. Não vou parar, vou continuar tentando”, disse o empresário, que garante ter um grande projeto político. “Meu projeto para a vida pública é diferenciado”. Segundo defende, no seu caso, a política não é feita para enriquecer. Política, diz Raimundinho, não passa de “um canal para desenvolver trabalhos sociais e abrir portas para os menos favorecidos”.
Raimundinho não foi só o que mais investiu do próprio bolso na campanha. Ele foi, na verdade, o candidato mais rico na Bahia, incluindo os postulantes a governador. Aliás, o empresário tem um patrimônio maior do que todos os 14 candidatos ao governo e vice, juntos. O valor dos bens declarados à Justiça Eleitoral soma pouco mais de R$ 20 milhões. Os bens dos candidatos ao Palácio de Ondina e seus vices somados chegam a R$ 9,5 milhões – ou seja, menos da metade do patrimônio de Raimundinho.
É a maior prova de que o candidato que mais investe na campanha nem sempre tem o melhor resultado. Só para se ter uma ideia, o deputado estadual mais votado na Bahia, João Isidorio, com 110.540 votos, gastou R$ 121 mil (entre doações de partidos, doações de pessoa física e recursos próprios). Cada voto de Isidorio custou, em média, R$ 1. O que faltou então para Raimundinho da JR ser eleito?
 “Nada! Política é assim mesmo. Um dia vou entrar”, acredita Raimundinho, que em 2016 tentou ser prefeito de Dias D´Ávila, onde mora, mas perdeu para Jussara Márcia (PT).
 Trajetória
Foto: Divulgação
Na adolescência, Raimundinho da JR vendia vísceras bovinas na feira da cidade de Aurelino Leal, onde nasceu, no Sul do estado. “Trabalhava duro para levar um troco pra casa”. Depois, seguiu os passos do pai, que era caminhoneiro. “Eu era doido para dirigir caminhão”. Começou dirigindo um caminhão. Em alguns anos, dirigia a JR, uma transportadora de cargas, principalmente de produtos químicos.
Ele conta que a ajuda do Banco do Nordeste foi fundamental para a empresa crescer. “Comecei com um caminhão. Pouco a pouco a frota foi crescendo e passei a ter seis caminhões. O Banco do Nordeste entrou e financiei 35 caminhões de uma vez”, lembra Raimundinho. O fato de honrar com os compromissos, diz Raimundinho, fazia com que o mercado confiasse nele. “Nunca atrasei uma prestação. Tanto que, hoje, o banco continua nosso parceiro”.
Não por acaso, a JR atua principalmente no Pólo Industrial de Camaçari. Anos atrás, Raimundinho enxergou ali um lugar estratégico. Começou a juntar sua fortuna em um ambiente propício. Além dos financiamentos de bancos, teve sorte com o momento econômico do país. “Cheguei no Pólo no momento certo. A economia brasileira estava em amplo crescimento”.
Raimundinho é casado há 35 anos, tem dois filhos e três netos. Devoto de Nossa Senhora Aparecida, Raimundinho fundou e mantém o Asilo Lar do Carmo, no distrito de Leandrinho, na mesma Dias D’Ávila. Entre os idosos, o seu primeiro patrão, dono de uma madeireira no município de Ubaitaba. “Eu fazia transporte para a madeireira. Quando o patrão ficou velhinho, trouxe ele para nosso asilo. A família não tem condições de cuidar dele”.
Além de sonhar com a vida pública, Raimundinho tem outra fixação: criar um polo têxtil em Dias D´Ávila. Para isso, já adquiriu um galpão de 60 mil metros quadrados. Com ele, diz o empresário, geraria 20 mil empregos. “Assim que o país der uma melhorada na economia, esse polo vai emplacar”, diz Raimundinho, acreditando que um dia uma de suas candidaturas também emplaque.

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