16 de janeiro de 2017

Arquiteto reúne histórias de cidades abandonadas: 'Só sobram o cemitério e a igreja'

Biribiri (MG) nasceu de uma extinta fábrica de tecidos no final do século 19; apenas quatro moradores ficaram e hoje é uma atração turística
As casas de Ararapira (PR) estão sendo lentamente engolidas pelo mar. Em Fordlândia (PA), as estruturas de piscinas, hotéis e uma serralheria desaparecem em meio à selva amazônica. Em Biribiri (MG), uma família passou anos tentando achar um comprador que desembolsasse US$ 1 milhão para adquirir uma vila histórica inteira. Na pacata Airão Velho (AM), cipós e árvores crescem sobre os escombros do século 18. 
Todas essas são histórias de cidades fantasmas brasileiras, mapeadas pelo arquiteto e urbanista Nestor Razente em seu livro "Povoações Abandonadas no Brasil". Na obra, o professor da Universidade de Londrina (PR) faz um levantamento inédito sobre oito cidades brasileiras que deixaram de existir entre os séculos 19 e 20.
Para o pesquisador, uma cidade passa a ser considerada fantasma quando não há registro de moradores ou há no máximo uma família. Mas a classificação não tem nada de sobrenatural. "Em vez de 'cidade fantasma', prefiro usar o termo 'povoação abandonada' para traduzir o fenômeno do desaparecimento da população."  
O que leva as pessoas a deixar esses locais? Segundo Razente, essa pergunta foi o ponto de partida para a pesquisa. "Num mundo cada vez mais urbanizado, como é possível existir uma cidade abandonada? Pesquisamos cidades brasileiras que desapareceram nos últimos dois séculos. Elas sumiram enquanto havia um fenômeno de urbanização acelerada." 
Esse processo histórico ainda é pouco estudado no Brasil. Enquanto no Brasil existem oito municípios fantasmas catalogados oficialmente, nos Estados Unidos os registros apontam para a existência de aproximadamente 900 cidades e vilas que desapareceram. 
O declínio econômico é o motivo mais comum. É o caso das cidades do Amazonas que viveram seu auge durante o Ciclo da Borracha (de 1879 a 1912) e daquelas que surgiram com o Ciclo do Ouro, fundadas por bandeirantes no interior do Brasil durante o século 18. 
Airão Velho, no Amazonas, foi abandonada por seus habitantes na década de 1950. Lendas contam que a fuga dos moradores ocorreu depois do ataque de formigas de fogo ou que teriam sido assombrados por fantasmas de índios escravizados.
A verdade é que o vilarejo viveu um período de prosperidade com a exploração do látex. "Quando a borracha sumiu, a cidade foi desaparecendo", explica o professor. Hoje o local possui um único morador, o imigrante japonês Shigeru Nakayama, que desde 2001 vive sozinho nessas terras. O guardião do local costuma cavar o chão em busca de velhos objetos, a partir dos quais montou um pequeno museu. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Participe do blog deixando sua mensagem, nome e localidade de onde escreve. Agradecemos.