30 de dezembro de 2016

Escolha do ministro da Saúde para presidência da Fiocruz gera crise na fundação

Sede da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio de Janeiro
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está tentando acionar diretamente o presidente da República, Michel Temer, na tentativa de reverter a nomeação da pesquisadora Tania Cremonini de Araújo-Jorge como sua nova presidente, disse ao jornal "O Estado de S. Paulo" o atual presidente da instituição, Paulo Gadelha. A escolha de Tania pelo ministro da Saúde, Ricardo Barros, gerou uma crise, porque viola a tradição de nomear o primeiro colocado das eleições internas da fundação. A vencedora do pleito foi Nísia Trindade, com 2.556 votos, contra os 1.695 obtidos por Tania.
A notícia de que a nomeação de Tania será publicada no Diário Oficial na próxima segunda-feira, 2, foi publicada nesta sexta no jornal O Globo e, segundo Gadelha, caiu como "uma bomba" e "criou turbulência" na Fiocruz. "Era totalmente imprevisível e irracional. Nísia teve 60% dos votos e tem apoio de todo o corpo de diretores da Fiocruz. Estou muito surpreso com a possibilidade de não acolherem (a vencedora)", disse.
Para Gadelha, a confirmação da nomeação da segunda colocada seria considerada "uma intervenção extemporânea de natureza política".
A escolha do candidato eleito pelos servidores vem sendo respeitada há mais de 20 anos. Gadelha disse que tentou entrar em contato com o ministro, mas não teve sucesso. Como o ministério afirmou que não iria se manifestar, porque a decisão é de competência do presidente da República, a diretoria da fundação começou a articular contato com o presidente Michel Temer.
De acordo com Gadelha, o presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) e membro do Conselho Superior da Fiocruz, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, chegou a conversar com Temer por telefone, pedindo que ele reveja a decisão. Embora a nomeação seja realizada pela presidência, a indicação do ministro da Saúde tem grande peso na decisão, uma vez que a fundação é vinculada à pasta.
"A questão agora está na sensibilidade do presidente Temer para reverter (a escolha) e dar tranquilidade a uma instituição que, mesmo com a turbulência que o País viveu, manteve capacidade de resposta significativa", disse Gadelha.
A notícia levou funcionários da Fiocruz a se reunirem na instituição às vésperas da virada do ano. Em reunião emergencial realizada nesta sexta-feira (30) para tratar do caso, o Conselho Deliberativo da Fiocruz decidiu encaminhar uma nota oficial ao presidente e ao ministro, declarar estado permanente de reunião e criar uma "comissão de notáveis" - pessoas como ex-presidentes da Fiocruz, membros do Conselho Superior e reitores de universidades - para dialogar com o governo federal.
Além disso, o congresso interno, que reúne delegados de todas as unidades da fundação e delibera sobre situações de crise, se reunirá nos dias 13 e 14 de janeiro.
A pesquisadora Tania Cremonini de Araújo-Jorge foi convocada para a reunião do conselho, mas não compareceu alegando estar gripada. De acordo com Gadelha, a expectativa é que ela ajude a resolver a crise, se mobilizando em defesa do sistema eleitoral e pela nomeação de Nísia. "A maioria da Fiocruz espera que seja nomeada a mais votada", disse. O presidente da Fiocruz avalia que a situação pode trazer um problema sério de governabilidade para uma eventual gestão de Tania.
A Fiocruz tem manifestado preocupação em relação a declarações polêmicas de Barros e em maio publicou uma carta em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS). Em visita à fundação no início de dezembro, Barros foi recebido por manifestantes que se identificaram como funcionários e estudantes da Fiocruz. Segundo Gadelha, a relação estabelecida com Barros é respeitosa, mas uma instituição como a Fiocruz não pode ser acrítica.
O novo presidente da Fiocruz comandará a instituição pelos próximos quatro anos.

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