"A má administração e o desvio de recursos penalizam muito a população carente"
O médico Bruno Leite e não esquece as raízes |
Foi difícil, mas conseguimos entrevistar o cardiologista Bruno Leite,
32 anos, natural do Bravo, distrito de Serra Preta, a 170 km de Salvador. No
início deste ano, entramos em contato com Bruno para saber sobre a atividade
voluntária que exerce para pessoas de baixa renda em sua terra natal. Bruno nos
atendeu bem, mas não desejava divulgar seu trabalho para não haver
interpretação de outra natureza. “Estamos em um ano eleitoral, não queria que
esse pequeno trabalho social fosse confundido com pretensões políticas”,
avaliou. Médico, formado em 2008 pela UFBA, com especialização em Clínica
Médica, Cardiologia e Ecocardiografia pelo Instituto Dante Pazzanese de
Cardiologia-SP, convencemos o cardiologista Bruno Leite a abrir o coração e nos
contar tudo. Bruno é um exemplo de dedicação e simplicidade, que com 16 anos
apenas conseguiu ingressar no disputado curso de Medicina da Universidade
Federal da Bahia - UFBA. Além da medicina, Bruno se dedica ao atletismo, ciclismo, musculação e nas horas vagas, procura ler outros temas, que não da área médica. Vale a pena conferir!
Blog – Conte
rapidamente sua trajetória educacional?
Fiz o primeiro grau no Bravo e o segundo em Feira de Santana. Ingressei
com 16 anos na Faculdade de Medicina da UFBA em Salvador. Após concluir a
graduação fui aprovado nos concursos públicos nacionais de seleção da
Residência Médica, sequencialmente em Clinica Médica, Cardiologia e
Ecocardiografia para me tornar especialista. Entre graduação e a conclusão das
especialidades foram 12 anos (6 anos da faculdade e mais 6 anos de
especialização).
Blog – Quem
lhe despertou o interesse pelos estudos?
Tive ótimos professores em todas as fases de meu aprendizado e exemplos
de dedicação dos amigos que saíam do Bravo para estudar - inclusive o do autor
deste Blog. Apesar de meus pais não terem formação universitária (meu pai é semianalfabeto
e minha mãe tem curso técnico) eles sempre estimularam e apoiaram
incondicionalmente minha formação. Desde muito jovem tinha a plena convicção de
que o estudo era o único caminho para melhorar a vida de minha família e isso
motivou a me dedicar e sempre buscar me aperfeiçoar para ser melhor naquilo que
faço.
Blog - Por que
decidiu ser médico?
Decidi fazer medicina principalmente por ter em minha infância
acompanhado minha mãe que trabalhava na antiga Maternidade do Bravo como
Técnica de Enfermagem por 30 anos. Lá me identifiquei com o ambiente hospitalar
e tive o exemplo dela que me ensinou a cuidar das pessoas com humanismo e
solidariedade.
Blog – Quais os grandes desafios da carreira médica,
principalmente em comunidades de baixa renda?
Um dos maiores desafios da pratica médica em comunidades de baixa renda
é levar um atendimento de qualidade e com resolubilidade tendo em vista a
escassez de recursos. Geralmente, conseguimos resolver muitos problemas de
saúde na consulta, mas encontro dificuldades, pois o paciente não consegue ter
acesso ao medicamento ou realizar um exame necessário para seu tratamento.
Blog - Por que decidiu realizar um trabalho voluntário na sua
cidade de origem?
Decidi fazer esse trabalho voluntário porque apenas criticando, sem
tomar nenhuma atitude para melhorar, nunca mudaremos nada nesse país. Serra
Preta sempre foi um município carente em muitos aspectos e atendendo como
cardiologista eu poderia dar minha contribuição para ajudar a quem precisa. Não
vejo essa ação como algo de extraordinário ou digna de admiração. Estou certo
que não resolverei todas as mazelas que assolam a população serrapretense, mas
busco fazer minha parte com humildade e parcimônia, jamais esquecendo minhas
origens.
Blog – Boas ações devem ser divulgadas para servir de
exemplo solidário, mas você gosta de realizar sua atividade altruísta
silenciosamente. Algum mistério?
Por um motivo que acredito fortemente: caridade com intuito de gerar
publicidade não é altruísmo e sim autopromoção e oportunismo em explorar a
miséria alheia. Ainda mais porque estamos em um ano eleitoral, não queria que
esse pequeno trabalho social fosse confundido com pretensões políticas.
Blog – Como é a rotina do seu trabalho solidário em Bravo?
Atendo no Bravo um dia por mês pacientes com problema cardíaco ou que
sejam encaminhados por outro médico (referenciado) para o cardiologista.
Utilizo o espaço na Clinica GFisio, o qual é gentilmente cedido pelo amigo
fisioterapeuta Georgenes Lima. Visando manter um atendimento de qualidade
similar a que faço em consultório particular, não marco muitos pacientes para
assim atender com calma e atenção quem me procura.
Blog – Uma consulta de um cardiologista no Brasil é muito
caro e só se encontra nas grandes cidades. Como uma pessoa de baixa renda pode
ter acesso a seus serviços voluntários?
Estabeleci critérios para priorizar os pacientes com problemas
cardíacos de baixa renda. Para atendimento, o paciente leva o encaminhamento e
preenchendo os critérios, o atendimento será marcado gratuitamente.
Blog – Como
avalia a rede de saúde pública no Brasil?
A saúde é um direito de todos e um dever do Estado. A saúde pública no
Brasil vai de mal a pior. A má administração e o desvio de recursos penalizam
muito a população carente. A maior consequência da corrupção que assola
nosso país se dá na Saúde. A falta de insumos básicos de leitos, de
profissionais qualificados ceifa inúmeras vidas diariamente. O bom médico faz toda
diferença, mas é ingenuidade pensar que sem a estrutura necessária se consiga
oferecer um serviço digno.
Moradores procuram o serviço gratuito e de qualidade |
Blog – Para os brasileiros, o coração sempre foi mais do
que um órgão de bombardear sangue. A saúde no Brasil se tornou uma mercadoria
ou ainda é um direito fundamental para todos?
A saúde é o nosso bem mais precioso e nunca deve ser encarada como
mercadoria. Mercenários existem em todas as profissões e a imagem da medicina
não pode se deixar macular por exceções. O médico deve ser valorizado como
todos os demais, ainda mais quando se investiu boa parte de sua vida na
formação. Algumas pessoas acham caro o preço de uma consulta ou exame, mas
muitas vezes gastam bem mais em um salão de beleza ou nas festas da vida sem
mostrar descontentamento.
Blog – É utopia achar que todos terão saúde de qualidade,
independente de renda familiar?
Enquanto nós continuarmos a escolher mal nossos governantes e sermos
tolerantes com a corrupção, nunca teremos a saúde que merecemos. Enquanto
ficarmos sentados na frente do computador sendo politicamente corretos nas
redes sociais sem tomar atitudes concretas para melhorar onde vivemos, nunca
teremos um país melhor.
Está para fazer 4 anos que ele pelo telefone entendeu e orientou adequadamente minha mãe no momento que meu já estava por pouco para morrer infartado.
ResponderExcluirResultado: meu pai vai poder assistir mais uma Copa do Mundo.
Meu orgulho portanto não é por ele ser meu primo e eu ter nascido aí no Bravo.
José Raimundo Leite Figueiredo
São Paulo-SP