31 de janeiro de 2016

ENTREVISTA: Adimilton Gomes fala da necessidade de inclusão de surdos no ensino e do audiovisual escolar

"A produção de vídeos mexe com diversos tipos de saberes e de fazeres"

Professor Adimilton Gomes orientou os alunos no PROVE - 2015.
Imagem: Madre Canal
Por e-mail, nosso blog entrevistou o professor de Ciência Biológica Adimilton Gomes Socorro de Souza. O professor atua mais de uma década na Educação do município de Madre de Deus. Foi Diretor da Escola Magalhães Neto, atualmente leciona no Colégio Estadual Antônio Balbino e é Vice-Diretor da Escola Municipal Deijair Maria Pinheiro. Adimilton se destacou em 2015 no projeto estruturante do governo do Estado, orientando seus alunos no PROVE. Além de se dedicar a Educação, o professor adora cozinhar, assistir a filmes e curtir a família.

Blog: Você já foi Diretor do Magalhães Neto, atualmente é Vice-Diretor da Escola Deijair, mas elevou o nome de Madre de Deus através do projeto estruturante da Sec-Ba com a produção de um vídeo escolar. De onde partiu este interesse de trabalhar vídeo com os alunos?

Na verdade em 2009 enquanto Diretor do Magalhães Netto, enviamos uma aluna para representar a Bahia na edição das Olimpíadas de Língua Portuguesa deste mesmo ano, só que o feito não foi muito divulgado. A produção de vídeo já faz parte da minha história como professor, sempre estimulando esse tipo produção no ensino médio.  Quando professor da Anna Junqueira Ayres Tourinho em São Francisco do Conde, em 2002, fizemos uma Mostra de Vídeos produzidos pelos alunos, com temas variados, que culminou com a entrega de troféus aos melhores em diversas categorias. E ao longo desses anos sempre estimulei a produção de vídeos pelos alunos como forma de expressarem, através das imagens, temas importantes, melhorando assim o processo de ensino-aprendizagem. Eu vejo nos trabalhos com vídeos uma forma lúdica, didática e extremamente dinâmica de se trabalhar com qualquer tema, por mais chato que este pareça, ele ganha movimento, e o que é melhor, pelas mãos dos próprios alunos que o produziram.

Blog – Porque escolheu o tema da surdez para trabalhar o vídeo?

Quando recebi o convite para orientar os alunos no Projeto Estruturante Produção de vídeos Estudantis (PROVE), o maior desafio foi selecionar os temas para a produção do vídeo, e aí de repente, quando estou em sala de aula, percebi que o tema estava ali, a surdez.  Em uma sala de aula, quatro alunos surdos que necessitavam de um intérprete para estabelecerem uma comunicação com os professores e com os colegas. Daí foi meio caminho andado, pois o roteiro a ser desenvolvido pelos alunos deveria tratar o tema com a seriedade e o respeito merecido. E principalmente chamar a atenção para a necessidade de uma verdadeira inclusão, pois é muito difícil para um surdo precisar de outras pessoas para ser ouvido e por assim dizer para ouvir. Hoje, a Língua Brasileira de Sinais é oficialmente a segunda Língua Oficial do Brasil, sendo que para os surdos ela é a primeira. No entanto, um surdo não consegue se comunicar na escola, no mercado, no hospital ou na rua onde mora. Onde está a inclusão? Enquanto um cidadão não consegue entender nem se fazer entendido, não existe inclusão. O Ensino das LIBRAS deveria fazer parte do currículo do Ensino Básico, a fim de proporcionar a comunidade surda a livre comunicação com qualquer pessoa, não precisando, por exemplo, dividir intimidades com o interprete em consultas médicas, entre outros.

Blog – Você ficou surpreso em ficar entre os primeiros colocados na etapa estadual do PROVE?

O tema era real, os alunos entenderam a proposta e se dedicaram. Eles entraram no universo dos surdos e até aprenderam LIBRAS para atuação e direção do vídeo. Sabíamos que a concorrência era enorme. Na primeira etapa ficamos entre os 15 melhores da NRE 26, depois entre os 15 da Bahia. E depois entre os seis. Segundo nos informaram eram quase mil vídeos. É a primeira vez que o Colégio Antônio Balbino participa do PROVE, por isso não tínhamos muitas expectativas, mas gostamos do resultado.

Blog – Diversas escolas estão trabalhando com produção de vídeo. Como você analisa a relação pedagógica em produção e exibição de vídeos escolares?

A produção de vídeos mexe com diversos tipos de saberes e de fazeres, pedagogicamente falando, e ainda trabalha com diversos recursos tecnológicos. Produzir vídeos, além de melhorar o processo de ensino-aprendizagem, revela talentos e desperta o interesse dos envolvidos pela escola, pois desenvolve nele um sentimento de pertencimento, de identidade.

Blog – Ainda é muito caro adquirir equipamentos para se produzir vídeo. Qual a dica que você dá para a escola que deseja começar montar seu núcleo de produção de vídeo?

Primeiro passo, utilizar as ferramentas que ela dispõe para começar a envolver a parte mais importante do processo, os alunos, utilizando seus celulares para produzir pequenos vídeos. Depois num estágio mais avançado utilizar os recursos Federais para adquirir os materiais necessários para montar um Núcleo de Produção de Vídeo. Para saber quais materiais necessários para montar um Núcleo, devem procurar a assistência de um especialista na área. Ou entrar em contato com núcleos estudantis, a exemplo do  Madre Canal, em Madre de Deus para obter estas informações. E é claro ter a frente do Núcleo um profissional capacitado, que entenda do assunto.

Alunos no set de gravação do vídeo para o PROVE

Blog – Qual será o próximo roteiro para o ano que vem?

O próximo tema será definido pela próxima turma que irá produzir o vídeo. Espero que seja um tema tão forte e necessário quanto o trabalhado em 2015.

Blog – O que Madre de Deus precisa para envolver mais alunos na produção de vídeo?

Madre de Deus desponta na Região Metropolitana pelo fato de haver na rede Pública Municipal um Núcleo de Produção de Vídeos, o Madre Canal, que qualifica os alunos em todos os processos de produção de vídeo, formando roteiristas, diretores, câmera man, editores, enfim. Creio que a valorização de pequenas produções, assim como faz o Governo do Estado, premiando esses vídeos, seria um grande incentivo para o envolvimento de mais alunos. Ainda porque podemos verificar nas redes sociais as produções de muitos deles, o que já aponta para a necessidade dessa valorização pela Secretária Municipal de Educação e pela Prefeitura.

Blog - São Francisco do Conde será cenário da nova novela da Globo. Você acha que a região pode se tornar um polo potencial para a produção de vídeo profissional?

O Recôncavo Baiano é belíssimo e possui uma história muito rica, além do talento natural que é inerente ao seu povo. Os investimentos feitos de maneira correta, valorizando essas potencialidades podem fazer sim dessa região um Polo de produção de vídeo profissional. A novela global irá revelar muitos talentos, que pelo fato de estarem fora do eixo Rio-São Paulo, não tiveram a oportunidade de ser mostrados. No entanto, faltam teatros, cinemas e isso é um fator negativo. O único teatro da região está localizado na Cidade de Santo Amaro da Purificação, e não existe nenhuma sala para exibição de filmes. Existem pequenos grupos teatrais com pequenas produções que são desconhecidas pela maioria da população. É preciso que haja um maior incentivo para que esses grupos formem mais profissionais da sétima arte, e que existam espaços, mesmo que temporários, para a exibição de suas produções teatrais e cinematográficas.


Assista ao vídeo premiado no PROVE

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