Número de participantes cada vez menor. Foto: Prefeitura Municipal de Serra Preta |
Neste domingo (10), aconteceu mais uma edição da festa centenária da Capina do Monte na cidade histórica de Serra Preta, 150 km de Salvador. Sem dúvida, a Capina é a festa mais tradicional do município e certamente com grande relevância cultural para o Estado da Bahia. Porém, fora do calendário baiano e sem divulgação, o evento perde força há cada ano.
A cidade de Serra Preta é um
tesouro que precisa ser desenterrado, assim define o historiador Mário Ângelo
S. Barreto. É uma cidade elevada a vila em 1722, uma das cidades mais antigas
da Bahia. Ao chegar na cidade, o visitante logo avista belas serras e o Tanque
Velho, nascente de riacho onde os povos originários Paiaiá, secularmente, bebiam água.
A região, que parecia um oásis em pelo semiárido, foi conquistada pelos portugueses no século XVII, expulsando
os Paiaiás. Serra Preta se transformou num plantation açucareiro, através da
mão-de-obra negra escravizada. Por isso, Serra Preta se transformou numa pequena cidade quilombola não reconhecida.
Com toda a sua riqueza
histórica, Serra Preta ainda é palco da festa da Capina do Monte, que sempre se
comemorou no dia 15 de dezembro. Não há registro sobre a origem da Capina, mas a
história oral entre os moradores leva a crer que o evento ultrapasse os cem
anos facilmente.
A Capina do Monte é realizada
por trabalhadores rurais que se reúnem, uma vez no ano, para capinar a estrada reta que dá acesso ao cume do monte em frente a prefeitura municipal.
Os trabalhadores capinam o espaço, cantando, rezando, sambando e soltando
fogos. Promessas são feitas. No alto da montanha, há uma pequena capela, sob o
domínio da Igreja Católica, onde membros do clero recebem os trabalhadores com
seus rituais típicos.
Moradores dizem que a Capina
do Monte recebiam multidões. Era uma festa esperada por toda a região. Porém, a
festa se apequenou com o tempo. Há anos, a Capina é tocada por poucos
trabalhadores. Não há uma divulgação relevante, o que ajuda a distanciar
visitantes. Organizadores mudaram a data do evento para todo segundo domingo de
dezembro, mas não surtiu o efeito desejado. A festa se tornou uma mera resistência ao tempo.
O desafio agora é não deixar a
festa morrer. Os organizadores apostam na mística da continuidade, mas é
preciso atrair novos atores, turistas e também patrocinadores. A prefeitura
municipal é a principal financiadora do evento, mas parece não estudar e
executar novas estratégias atrativas. “É uma festa da cultura negra. Precisa
ser inserida na programação ou no currículo escolar, além de investir numa
grade musical que atraia a juventude”, indica Barreto.
Uma outra urgência seria a
promoção da Capina do Monte na agenda cultural da Bahia, reconhecendo como
patrimônio imaterial do Estado. A prefeitura municipal precisa provocar o IPAC,
a Secretaria de Turismo do Estado e agentes culturais para abraçarem a festa. É
um crime abdicar da riqueza da Capina do Monte, é reforçar o racismo estrutural.
Sem dúvida, o futuro da Capina é ressignificar sua simbologia, atrair multidão, colaborando com o desenvolvimento de emprego e renda através do turismo festivo
tradicional. Passou da hora de continuar capinando novos caminhos sempre para o alto.
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