11 de dezembro de 2023

Qual o futuro da Capina do Monte em Serra Preta?

Número de participantes cada vez menor.
Foto: Prefeitura Municipal de Serra Preta 

Neste domingo (10), aconteceu mais uma edição da festa centenária da Capina do Monte na cidade histórica de Serra Preta, 150 km de Salvador. Sem dúvida, a Capina é a festa mais tradicional do município e certamente com grande relevância cultural para o Estado da Bahia. Porém, fora do calendário baiano e sem divulgação, o evento perde força há cada ano.

A cidade de Serra Preta é um tesouro que precisa ser desenterrado, assim define o historiador Mário Ângelo S. Barreto. É uma cidade elevada a vila em 1722, uma das cidades mais antigas da Bahia. Ao chegar na cidade, o visitante logo avista belas serras e o Tanque Velho, nascente de riacho onde os povos originários Paiaiá, secularmente, bebiam água.

A região, que parecia um oásis em pelo semiárido, foi conquistada pelos portugueses no século XVII, expulsando os Paiaiás. Serra Preta se transformou num plantation açucareiro, através da mão-de-obra negra escravizada. Por isso, Serra Preta se transformou numa pequena cidade quilombola não reconhecida.

Com toda a sua riqueza histórica, Serra Preta ainda é palco da festa da Capina do Monte, que sempre se comemorou no dia 15 de dezembro. Não há registro sobre a origem da Capina, mas a história oral entre os moradores leva a crer que o evento ultrapasse os cem anos facilmente.

A Capina do Monte é realizada por trabalhadores rurais que se reúnem, uma vez no ano, para capinar a estrada reta que dá acesso ao cume do monte em frente a prefeitura municipal. Os trabalhadores capinam o espaço, cantando, rezando, sambando e soltando fogos. Promessas são feitas. No alto da montanha, há uma pequena capela, sob o domínio da Igreja Católica, onde membros do clero recebem os trabalhadores com seus rituais típicos.

Moradores dizem que a Capina do Monte recebiam multidões. Era uma festa esperada por toda a região. Porém, a festa se apequenou com o tempo. Há anos, a Capina é tocada por poucos trabalhadores. Não há uma divulgação relevante, o que ajuda a distanciar visitantes. Organizadores mudaram a data do evento para todo segundo domingo de dezembro, mas não surtiu o efeito desejado. A festa se tornou uma mera resistência ao tempo.

O desafio agora é não deixar a festa morrer. Os organizadores apostam na mística da continuidade, mas é preciso atrair novos atores, turistas e também patrocinadores. A prefeitura municipal é a principal financiadora do evento, mas parece não estudar e executar novas estratégias atrativas. “É uma festa da cultura negra. Precisa ser inserida na programação ou no currículo escolar, além de investir numa grade musical que atraia a juventude”, indica Barreto.

Uma outra urgência seria a promoção da Capina do Monte na agenda cultural da Bahia, reconhecendo como patrimônio imaterial do Estado. A prefeitura municipal precisa provocar o IPAC, a Secretaria de Turismo do Estado e agentes culturais para abraçarem a festa. É um crime abdicar da riqueza da Capina do Monte, é reforçar o racismo estrutural. Sem dúvida, o futuro da Capina é ressignificar sua simbologia, atrair multidão, colaborando com o desenvolvimento de emprego e renda através do turismo festivo tradicional. Passou da hora de continuar capinando novos caminhos sempre para o alto.

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