5 de fevereiro de 2025

Prefeitura de Serra Preta asfalta calçamento histórico sem consulta popular

Asfalto vai destruir a originalidade da cidade de Serra Preta

A Prefeitura Municipal de Serra Preta, situada a 150 km de Salvador, deu início nesta terça-feira (04) à obra de asfaltamento sobre parte do calçamento histórico da cidade, gerando controvérsias e debates quanto a preservação do patrimônio cultural e a falta de consulta à população. O ambiente urbano, que remonta ao período colonial, é uma das principais marcas históricas da cidade de Serra Preta, que foi elevada à categoria de vila em 1722 - cem anos antes do Brasil se tornar independente de Portugal. A intervenção, que modifica a infraestrutura da área, está sendo realizada com recursos provenientes de uma emenda parlamentar do senador Coronel, segundo escreveu na rede social o vereador Cezinha (Partido Republicano), que parabenizou o prefeito Franklin Leite (Avante) pela obra.

O asfaltamento do centro histórico da cidade, até então caracterizado por suas ruas de paralelepípedos, foi anunciado como parte de um "início de uma nova era" na rede oficial da Prefeitura e também no Instagram do prefeito municipal. No entanto, a decisão de modificar o calçamento tradicional gerou críticas entre moradores a respeito do patrimônio histórico, que apontam a importância da preservação das características originais da cidade. Segundo eles, a alteração do calçamento comprometeria a autenticidade de um dos maiores legados culturais de Serra Preta. Sem contar, que pode comprometer a conquista de um possível Tombamento Histórico de uma das cidades mais antigas da Bahia.

Além disso, a obra foi realizada sem uma ampla consulta pública ou envolvimento da população local, o que tem gerado descontentamento. Moradores se queixam de não terem sido ouvidos sobre o impacto de uma mudança tão significativa no visual da cidade, que é um atrativo para turistas interessados em conhecer o legado colonial da região. A falta de um debate mais amplo sobre o projeto  - inclusive sem apresentar parecer técnico - é vista por interessados como uma falha na gestão, que, para muitos, deveria incluir a participação popular nas decisões que afetam diretamente o patrimônio da cidade.


Originalidade ainda mais ameaçada 

Por outro lado, há quem acredita e defende que a obra visa modernizar a cidade. Mas para o historiador Mário Ângelo S. Barreto, o prefeito se precipitou e limita oportunidade de emprego e renda, já que a cidade de Serra Preta tem totais condições de ser reconhecida como patrimônio histórico pelos poderes públicos. "Essa forma artificial de descaracterizar a bela cidade de Serra Preta, abre um precedente perigoso para destruição total da originalidade urbana", denuncia o historiador. Segundo Barreto, o Ministério Público Federal e o Ministério Público do Estado precisam acompanhar essa investida danosa do gestor. Diz também que a população da cidade precisa cobrar explicações, já que "são os maiores prejudicados", alerta.

Casarios históricos em ruinas precisam ser reformados

Segundo o vereador Cezinha, a emenda de R$ 2.000.000,00 do senador Coronel (PSD) foi fundamental para o financiamento da obra de asfaltamento em ruas já pavimentadas. No entanto, seria um importante recurso para pavimentar ruas de chão batido e sem rede de esgoto. Serra Preta também necessita, com mais urgência, de reformas habitacionais, despoluição do Tanque dos Milagres (Tanque Velho), reforma da Caixa D´Água e até mesmo a construção da Escadaria do Morro da Capina.

Asfalto sobre calçamento de peso cultural é desrespeito com a história da cidade e um desserviço para o futura de novas gerações. Por ironia do destino, nos anos 90,  a cidade de Serra Preta sofreu com a demolição do Barracão centenário na gestão de Antônio Carneiro. Hoje, seu filho Franklin Leite, prefeito reeleito, entra para história como o gestor que descaracterizou o sítio urbano da cidade com o derivado petrolífero, que nem há grande fluxo de veículo que justifique o paradigma. Um outro aspecto, sem dúvida, é a questão ambiental. O processo de asfaltamento, embora agrade alguns, traz impactos muito fortes na temperatura local, provocando desconforto e podendo abalar até mesmo a saúde de moradores. 

Sendo assim, parece que a cidade de Serra Preta realmente corre o risco de perder sua originalidade. O pior de tudo é saber que o poder público, que deveriam proteger, utiliza seus recursos - sem nenhum pudor - para descaracterizar o pouco que resta de valor histórico. A terrinha corre perigo!


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