27 de setembro de 2019

170 anos depois, Defensoria Pública da Bahia absolve, através de Júri Simulado, o escravo fugido ‘Lucas da Feira’

Júri Simulado absolveu Lucas da Feira por quatro votos contra dois
A defensoria Pública do Estado da Bahia - DPE/BA realizou, quarta-feira (25), um Júri Simulado sobre a conduta do escravo Lucas Evangelista, o Lucas da Feira, que foi condenado à morte por enforcamento.  Segundo o site Blog da Feira, a pena foi executada na atual Praça do Nordestino, conhecida antigamente como Campo da Gameleira há 170 anos, diante da população feirense.
Lucas da Feira é um personagem importante da história de Feira de Santana. Aos poucos, a historiografia baiana tenta resgatar a sua biografia e contexto que viveu.  "Lucas da Feira foi condenado à morte, não tanto pelos crimes a ele atribuídos, mas principalmente pelo que representava no imaginário das elites de seu tempo: um bandido no estilo épico que sertão adentro, durante vinte anos, brincou de gato e rato com a justiça, rompendo cercos policiais enquanto roubava gado, assaltava fazendas, sequestrava e estuprava moças. Uma delas, Maria Romana, estava com ele quando o comparsa Cazumbá informou à policía seu esconderijo nas matas à margem do Jacuipe. No interrogatório do delegado Leovegildo Filgueiras, Lucas admitiu o rapto de inúmeras donzelas, mas garantiu nunca ter matado as meninas", informou o site GGN.
 “Eu juro que vou sobreviver e vou viver. A vida só não basta"
No Júri simulado, evento realizado no Teatro do Centro Universitário Cultural e Arte (CUCA/UEFS), Lucas da Feira foi absorvido por quatro votos a dois.  “Tentando não propriamente fazer uma reconciliação com o passado, eis que irreconciliável, mas uma releitura do direito na história – na história passada, presente e pensando em uma futura – é que os jurados hoje, por maioria de votos, decidem absolver Lucas da Feira de todas as acusações que lhe são imputadas”, disse defensora pública Elisa da Silva Alves, representando a juíza do Tribunal da Comarca de Feira de Santana.
Na matéria do site Blog da Feira, que traz detalhes sobre o Júri Simulado, foi transcrito uma fala atribuída ao réu Lucas da Feira, onde no desespero da condenação em 25 de setembro de 1849, faz sua defesa pessoal. “Eu juro que vou sobreviver e vou viver. A vida só não basta. Por muitos, sou temido. Por outros, seguido. Não sou um homem totalmente bom, mas não sou ruim como dizem. Fiz o que fiz porque precisava sobreviver. Nunca mexi com ninguém quando não precisava”.
O evento do Júri Simulado desta natureza tem uma importância simbólica relevante para Feira de Santana e a história baiana. Através desse modelo de debate, é possível a população conhecer mais a atuação das instituições oficiais, o processo de formação da cidade e os paradigmas de justiça social que desejamos para todos.

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