23 de julho de 2019

Serra Preta dá adeus a sua matriarca

Dona Ditinha e Seu Daniel eram referências em Serra Preta

Morreu nesta terça-feira (23), Benedita Santana Silva, conhecida como Dona Ditinha, aos 90 anos. no distrito de Bravo. Dona Ditinha tinha completado idade nova no dia 02 de julho, data da independência da Bahia.

A matriarca estava acamada há alguns anos. Diagnosticada com o mal de Alzheimer, Dona Ditinha viveu seus últimos dias de vida no distrito de Bravo, 170 km de Salvador, ao lado da filha afetiva Daniela, sua fiel cuidadora. Dona Ditinha era viúva. Foi casada com Daniel da Silva Pereira, falecido em 2003, e deixou mais dois filhos: Faninho e Pedro - que mora em São Paulo.

Trajetória

 Realizava parto de pessoas que não tinham acesso a atendimento médico

Dona Ditinha recebia políticos locais e regionais em sua residência
Ao lado de seu esposo Daniel, Dona Ditinha marcou épocas em Serra Preta. Comandou um dos terreiros de candomblé mais ativo no município. O terreiro religioso era sua própria morada, localizado na zona rural de Mandassaia. 06 de janeiro era data auge dos rituais e comemorações. Toda a região frequentava os rituais e festejos durante 03 dias. Diversas caravanas, inclusive de outros municípios, lotavam as dependências e as áreas livres do Terreiro.  

Além do povo, que busca cura e proteção, Dona Ditinha recebia personalidades importantes de toda a Bahia. Segundo sua neta Janaina Barreto, considerada filha por Dona Ditinha, era comum a presença de políticos em busca de apoio e benção. Os ex-deputado e ex-prefeito de Feira de Santana, José Falcão - falecido em 1997 - era franco frequentador e sempre prestigiava o trabalho religioso da matriarca. Nas eleições municipais, muitos candidatos apareciam em busca de proteção e vitória eleitoral.
 
Familiares e populares reunidos em torno da matriarca
O sincretismo religioso era a marca de Dona Ditinha. Embora Mãe de Santo respeitada, se dizia católica e devota de Santo Antônio, onde frequentava a religião romana no distrito de Bravo. Era sempre presença certa no Trezenário de Santo Antônio no mês de junho. A prova da fé católica era tão grande que Dona Ditinha viajava quase todos os anos para Bom Jesus da Lapa. Também, foi frequentadora das romarias para Juazeiro do Norte no Ceará, atrás dos milagres de Padre Cícero; Aparecida, São Paulo e colecionava diversas artes sacras. 

Populares frequentavam o terreiro em busca de proteção
Para a neta Janaína Barreto, a matriarca não só se dedicava a sua fé. Na falta de médico, além das benzas, Dona Ditinha realizou diversos partos em Serra Preta e região. “Quantas vezes ela saiu tarde da noite para realizar parto de pessoas que não tinham acesso a atendimento médico, inclusive parto de risco”, revela. Como recompensa, Dona Ditinha ganhou muitos afilhados para batizar. Era comum o terreiro ser aberto para diversos batizados coletivos católicos. Adailton Barreto, irmão do professor Mário Ângelo Barreto, foi batizado por Valdemar Figueiredo no ambiente sagrado da Mandassaia. Sua irmã, Milézia Barreto, veio ao mundo graças a atividade de parteira de Dona Ditinha, que também a batizou.

Dona Ditinha tinha espírito forte e controladora. Próximo ao seu Terreiro, morava boa parte da família de seu esposo. Era um território de irmandade muito semelhante a uma comunidade quilombola. A família amava e ama o local considerado sagrado, mas tem uma ligação muito forte com São Paulo. A própria Dona Ditinha viajava sempre para São Paulo, mas sempre retornava a Serra Preta. “Minha avó fazia de São Paulo caminho de roça, junto com meu avô”, lembra Janaína.

O declínio

O beijo do bisneto Daniel
A matriarca não só teve tempos de glórias. Colecionou amigos e inimigos também, principalmente em disputa por posição religiosa. Porém, o maior atentado que sofreu foi quando muitos convidados tiveram os pneus de seus carros cortados ao participar das festividades do terreiro. A partir de então, a frequência nunca foi a mesma. Os frequentadores passaram a se sentir inseguros. Sem apoio público, o terreiro religioso entrou em declínio.

Dona Ditinha e seu esposo Daniel passaram a morar em Bravo, na Praça da Igreja, onde Seu Daniel abriu o “Bar Amigo do Povo”, recebendo trabalhadores rurais da região. O bar se tornou ponto de referência até ser vítima do câncer de próstata em 2003. A força do tempo e as perdas, naturalmente, abateram Dona Ditinha, que praticamente entrou no anonimato, onde recebia poucas visitas.  

A partir dos anos 2010, Dona Ditinha não era mais a mesma. Perda de memória, relações conturbas, atitudes inesperadas davam sinais que a saúde da matriarca não era mais a mesma. Quem sempre ajudou, agora precisava de ajuda. Mesmo abatida pelo mal de Alzheimer e a idade avançada, Benedita Pereira lutou até os últimos minutos. Benedita não resistiu ao dar entrada no hospital municipal de Serra Preta, nesta segunda-feira (22), vindo a falecer hoje pela manhã. O sepultamento acontecerá no cemitério Lar da Saudade em Bravo às 9h. 


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Um comentário:

  1. meus pêsames a todos que deus conforte o coração, no seu tempo! por que Só o tempo cura essa dor!

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