Haverá financiamento do Estado e dez assentos não eleitos até 2023 |
por Deustche Welle
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) anunciaram que lançarão oficialmente uma legenda política a partir do 1º de setembro, data que marcará um mês do completo desmantelamento da guerrilha como parte de um histórico acordo de paz com o governo.
"Em 1º de setembro estaremos lançando publicamente o novo movimento político", disse o guerrilheiro de codinome Carlos Antonio Lozada, membro do Estado Maior das Farc, em uma coletiva de imprensa na segunda-feira (24/07). O líder guerrilheiro afirmou ainda que o partido será apresentado em um ato político na Praça Bolívar, em Bogotá.
Os rebeldes ainda procuram traçar os alinhamentos para formar seu partido político e definir os candidatos que disputarão futuras eleições. Segundo Lozada, os dirigentes das Farc estão recebendo relatórios de "diferentes departamentos que fazem parte do Estado Maior Central" e que se ocupam "de elaborar as propostas" que apresentarão com sua plataforma política.
"Temos uma proposta de modelo econômico, a política de gênero que será realizada por nosso partido, as propostas que faremos ao setor da juventude, bem como a defesa do meio ambiente, a política do partido frente à questão urbana e, igualmente, para a parte agrária", acrescentou o líder guerrilheiro.
"Seguramente, nos dias seguintes ao desenvolvimento do plenário e posteriormente no processo, focaremos em estudar não somente os nomes, mas, sobretudo, e fundamentalmente, as propostas que vamos apresentar", acrescentou Lozada.
Financiamento do Estado
Por outro lado, o ex-chefe da equipe negociadora das Farc com o governo, Luciano Marín Arango, de codinome Iván Márquez, indicou que o partido da guerrilha receberá financiamento do Estado assim como acontece com os demais movimentos políticos do país.
"Nos acordos está escrito claramente que, assim como os demais partidos, [o partido das Farc] terá financiamento por parte do Estado, de modo que nisso não há nada novo. Esperamos que o Estado cumpra com esses compromissos e facilite assim o processo de reintegração política das Farc", assegurou Márquez. "Acertamos a paz para participar da política. Dissemos que abandonaríamos balas para ter palavras como a única arma."
Além disso, o líder guerrilheiro reiterou sua preocupação com o assassinato de guerrilheiros indultados, e afirmou que já são "cerca de seis" rebeldes e "alguns familiares assassinados". "Seria triste que na Colômbia voltássemos à eliminação de uma força política como ocorreu com a União Patriótica", manifestou Márquez.
Dez assentos não eleitos até 2023
O tratado entre Farc e governo federal garante dez assentos (cinco no Senado e cinco na Câmara) não eleitos no Congresso até 2023 – depois desta data, a legenda terá de participar das eleições. As Farc também poderão lançar candidatos durante as eleições para tentar aumentar sua participação parlamentar.
As Farc lutaram contra o governo colombiano por quase cinco décadas, antes de chegar a um acordo de paz no ano passado depois de quatro anos de negociações em Cuba. O conflito deixou feridas profundas na Colômbia e resultou em 250 mil mortos, cerca de 60 mil desaparecidos e sete milhões de deslocados.
O acordo de paz foi rejeitado por margem mínima num referendo nacional no ano passado, antes de ser renegociado e levado ao Congresso pelo presidente colombiano, Juan Manuel Santos.
Opositores ao acordo de paz foram contra as Farc entrando na esfera política depois de anos de violência, sequestros e tráfico de drogas. Eles também foram contra uma anistia para a maioria dos ex-combatentes ou projetos de serviço comunitário, em vez de sentenças de prisão, conforme está elaborado no tratado.
As Farc emergiram na década de 1960 de uma revolta camponesa num país atormentado pela desigualdade de renda, pobreza rural e grandes proprietários de terras que exercem o poder econômico e político.
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