10 de agosto de 2015

A morte de “Boca Rica” deixa o Bravo mais pobre

Boca Rica era o nosso Gregório de Matos. Foto: Conecta Serra Preta
Um trágico acidente acabou com a vida de Raimundo Alves Machado. Ele se chocou de frente com o ônibus da Entram - que saíra de São Paulo com destino a Xique-Xique - com sua moto. Seria apenas mais um acidente, onde famílias choram todos os dias, nas rodovias brasileiras. Mas não foi um simples acidente, pois, quem pilotava a moto era uma das figuras típicas do Bravo, o velho Boca Rica.

Poucas horas depois do acidente, recebo mensagens online do meu amigo de Residência Universitária, Josiel Lima, desejando saber quem era Raimundo Alves. Respondi, que no interior só conhecemos pelo apelido. Pedi uma foto e ele me endereçou ao site Portal Bacia do Jacuípe. No portal tinha narração do acidente, mas a foto era da carteira de identidade, quando Boca Rica era jovem. Impossível reconhecer!

A saída foi postar a matéria neste blog. Em questão de segundo, os moradores de Bravo confirmava que Raimundo Alves e Boca Rica eram a mesma pessoa. Logo lembrei que “Boca” se chamava mesmo Raimundo. Há mais de vinte anos, eu encontrei a carteira, com todos os documentos de Raimundo Alves Machado. Passei uns oito dias de posse da carteira. Só desvendei, quem o dono era, quando ouvi, no extinto bar 07 portas em Bravo, Boca Rica comentando que não podia viajar porque perdeu todos os documentos.  - Também, quem vai conhecer Raimundo?!, gritou Boca Rica.

- Eu conheço Raimundo Alves, falei para ele em seguida.

Olha que na época eu tinha “medo” de “Boca”. O cara falava alto, bebia muito e tinha tatuagem. Dizia-se que o cara era muito doido. Fiquei com receio de devolver a carteira porque não tinha um centavo dentro, apenas documentos. Achei que ele poderia imaginar que fiquei com o suposto dinheiro. Eu podia estar entrando numa confusão gratuita, mas segui a conversa. A vontade de entregar foi mais forte. 

- Eu achei tua carteira, confirmei.

- Quem é você? Você deve estar brincando comigo! Anunciei no bingo tem 15 dias e nada.

- Achei tua carteira no fundo da minha casa.

- Você é filho de quem?

- De Gaspar.

- Ah, pode ser. Moleque, eu tava cagando ali mesmo. Tive uma dor de barriga do caralho e não deu tempo de chegar em casa. Vou lhe dar uma grana por isso.

Entreguei a carteira e não quis nada em troca, mas ganhei a amizade. Toda vez que “Boca” me via, falava: - esse cara me salvou!

Tempo passou e vejo “Boca” sendo espancado pela polícia e um ‘delegado calça curta’ na praça do Bravo. A tortura foi dura! Eu era membro do PT e a vontade de fazer Justiça aflorou. Dia seguinte, numa segunda-feira, eu e Nem de Celina, fomos até Cal de Zé, melhor datilógrafo da cidade, formado pela escola de dona Lezi, fizemos um ofício relatando o ocorrido e encaminhamos ao Ministério Público no distrito de Ponto.

Três dias depois, uma intimação chegou as nossas mãos para comparecer ao Ministério Público. Não tínhamos carro. Foi uma aventura chegar ao Fórum, já que as localidades do município de Serra Preta não se conectavam com transporte de massa, eram isoladas.  Ao chegar ao Fórum, fomos bem recebidos por uma jovem e elegante promotora.

A promotora queria saber detalhes da operação policial. Contamos o que presenciamos. Não sabíamos de delito algo cometido por “Boca”. A promotora prometeu apurar os fatos. Uma semana depois, Boca Rica me viu na rua e disse:

- Rapaz, você me salvou. Fui chamado no Fórum e pensei que ia ser preso, mas a promotora me deu razão e disse que vai intimar todos eles que me espancaram.

- O que você fez, Boca?

- Eu não fiz nada. Me bateram porque eu tava bebendo. Mas na verdade, o delegado tem raiva de mim porque não voto no candidato dele, justificou.

Pouco letrado, Boca Rica era o nosso Gregório de Matos, o Boca do Inferno. Não tinha papas na língua. Gritava para toda cidade ouvir o que pensava e sabia. Não tinha medo de prefeito, delegado ou policial.  Dizia-se um dos fundadores do Bravo. Também, era famoso por conhecer celebridades.  Afirmava que era amigo de Jaques Wagner, ex-governador da Bahia, que trabalharam juntos numa empresa na Zona Metropolitana de Salvador. Certa vez, Wagner foi ao Bravo e reconheceu Boca Rica mesmo, não mentiu. Disse também, numa gravação, que era amigo de Emerson Fittipaldi, quando migrou para São Paulo em busca de emprego.


Enfim, a morte do anônimo Raimundo Alves Machado matou nosso lendário Boca Rica. Não tive como salvá-lo desta vez. Faleceu aos 72 anos. Com certeza, o Bravo fica mais pobre! Boca falava a verdade numa cidade cercada de mentirosos e malfeitores. Morreu atropelado pelo ônibus da empresa Entram, que já fora motorista no passado. Chocou-se de frente, em alta velocidade. Sua morte imitou sua vida, batendo de frente com as enormes barreiras que sempre lutava. Fica sua história e sua espontaneidade em falar o que pensa, sem hipocrisia! Que o exemplo sirva.

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AINDA FALANDO DA BAHIA, O J.H.V CONHECEU UM CIDADÃO POR NOME DE BOCA RICA QUE SE DIZ FUNDADOR BRAVO DISTRITO DE SERRA PRETA, E CONTOU MUITAS HISTORIAS...VEJA VÍDEO....jornal a hora da verdade..
Posted by Walter Gabiru on Terça, 9 de junho de 2015

Um comentário:

  1. Recentemente, batendo um papo com Boca Ricia, ele me contou que estava muito intrigado com um conterraneo e visinho seu, por estar em uma determinada localidade, lhe apresentaram um menino dizendo ser filho desse seu vizinho e inocentemente, ele encontrou-se com a esposa do mesmo e devido a expontaneidade e falta de malícia passou a contar o acontecido: D. Fulana, a senhora conhece o filho do seu marido que mora em tal lugar? a mulher tirando uma de Joana sem braço, retrucou sim e aonde você o encontrou? Assim, assim e simplesmente a mulher se afastou e foi procurar o marido para exclarecimentos. Horas depois quando Boca Rica se encontrava em uma loja comercial aqui no Bravo, apareceu o tal marido e que sem nenhuma conversa sapecou-lhe um murro no rosto do de Raimundo, que fez o sangue sair e exclamou, pra você não se meter na vida dos outros seu não sei o que.... Confersso que morreu muito magoado pois ele me confessou como é do conhecimento de todos, "O cara era acostumado a deixar filhos em todo canto, imaginei que ela já sabia de tudo.

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