3 de agosto de 2012

Serra Preta precisa ser resgatada

História e abandono marcam a cidade de Serra Preta, fundada em 1722

Serra Preta é uma das cidades mais tradicionais da Bahia
Talvez na Bahia não exista uma sede municipal mais abandonada e esquecida do que Serra Preta.  Por outro lado, são poucas as cidades baianas com a singularidade e a riqueza histórica de Serra Preta.

Serra Preta é data de 1722, cem anos antes da independência do Brasil. As terras, onde hoje a cidade localiza, foram conquistadas por “José Pereira Mascarenhas, vindo do Estado do Piauí, trazendo três filhos e inúmeros escravos”, registra um documento histórico do município escrito em 1971 pelo poder público.

Mascarenhas beneficiou o local, montando um engenho de açúcar, onde gradativamente desenvolveu o povoado de Boa Vista. O povoado era estratégico para os mercadores que vinham de Cachoeira em direção ao sertão. Além de apoio logístico, os viajantes contavam com a Lagoa dos Milagres, conhecido como Tanque Velho, importante reserva natural de água doce propícia ao consumo. 

Em 15 de agosto de 1722, foi edificada a capela, financiada por João Carneiro de Oliveira, onde homenageou Nossa Senhora do Bom Conselho. A partir de então o povoado passou a se chamar Boa Vista do Bom Conselho. Em 1831, mesmo anos em que D. Pedro I abandonou o trono do Império brasileiro, foi criado o Cartório de Paz, já com o povoado denominado Serra Preta. Em 1938, Serra Preta foi elevada a condição de Vila de Serra Preta e subordinada ao município de Ipirá. Em 1953, a Lei Estadual 604 de 19 de dezembro tornou-se Serra Preta cidade. 

O censo de 1950 registrou uma população mais elevada que a atual. 18.907 pessoas habitavam Serra Preta, hoje, o IBGE registra 15.401 habitantes. A população se concentrava basicamente na zona rural. Nesses anos, Serra Preta enquanto centro urbano, possui 413 habitantes, atualmente pouco mais de 700 pessoas. Outras aglomerações urbanas já existiam como o povoado do Ponto de Serra Preta com 640 habitantes e o Bravo com 430 habitantes.

 Ascensão e Decadência
No passado, Serra Preta foi ponto estratégico entre o litoral e o sertão

Casarões históricos são substituídos por novas construções

Poder Público é totalmente ausente na conservação do patrimônio histórico

Nos tempos de glória, a cidade de Serra Preta era o principal centro urbano, comercial, político e cultural. As festas religiosas e populares eram bastante atraentes. Multidões ocupavam a cidade durante os festejos. Segundo o historiador Mário Ângelo Barreto, os antigos frequentadores da cidade diziam que “morar em frente à Igreja do Bom Conselho era um privilégio para poucos”. 

Sem projeto sustentável, a cidade de Serra Preta é ameçada a desaparecer
Atualmente, Serra Preta vive um processo de esvaziamento. Muito estão abandonando a cidade em busca de oportunidades em outros centros. Serra Preta perdeu a magia e o centro do poder. O distrito municipal do Bravo, com mais de 7.000 habitantes, passou a exercer a hegemonia urbana, comercial e administrativa. Com a perda da hegemonia local, as moradias da cidade histórica não acompanham o valor imobiliário comparadas com outras localidades. Alguns casarões são abandonados e sorte é o proprietário que consegue alugar um dos imóveis em Serra Preta. 

Da fraqueza surge a força
 Para o historiador Mário Ângelo Barreto, uma das saídas de desenvolvimento para Serra Preta é o resgate cultural e o reconhecimento histórico

Rua Coronel João Reis está sendo descaracterizada paulatinamente
Para o historiador Mário Ângelo S. Barreto nem tudo está perdido em Serra Preta. A história e o parque urbano são a grande riqueza local. “Quando piso na cidade de Serra Preta me sinto pisando em ouro vivo. É preciso debater com os moradores locais a riqueza que eles têm e não conseguem aproveitar, nem conservar. Desejo trazer a tona a valorização histórica e fortalecer o processo de tombamento arquitetônico da cidade”, argumenta.

Para Ângelo, Serra Preta é totalmente viável economicamente, assim como Cachoeira, Lençóis e outras cidades históricas. “Serra Preta tem características urbanas semelhantes à de Igatu, distrito de Andaraí na Chapada Diamantina, mas com facilidade de acesso melhor”. Igatu fica sobre a serra do Sicorá e a via de acesso é uma bonita, mas difícil estrada de pedras; enquanto Serra Preta fica próxima da BA -052 e apenas a 160 km de Salvador.
Serra Preta, 148 Km de Salvador, precisa ser revitalizada

Serra Preta é vítima de gestão pública amadora. A prefeitura não possui nenhum projeto para a cidade. Há anos, o município foi administrado por um grupo político que virou as costas para a Sede. Sem projeto sustentável, o poder público cometeu um crime, que se logo nada for feito pode resultar no desaparecimento do centro urbano secular.

Casarões históricos não recebem a devida proteção pública
Além de seu povo, as riquezas da cidade são seus casarões, calçadas e o traçado urbano - o que vem desaparecendo gradativamente. Os moradores perderam a consciência de sua história, muitos estão destruídos as casas seculares e construídos outras no local – o que é um erro grave! Alguns moradores acham até importante destruir o patrimônio histórico e construir uma nova residência no lugar. A própria prefeitura destruiu um barracão histórico e construiu um mercado comercial no local. Mais recente, construiu uma quadra de esporte bem em cima da nascente de um antigo córrego. Ou seja, quem deveria cuidar e fiscalizar é o primeiro a destruir.

Cabe à prefeitura revitalizar a cidade e tombá-la como nosso patrimônio municipal. O Estado também precisa tomar conhecimento da situação e através de seus institutos, IPHAN e IPAC, legitimar o processo de reconhecimento de Serra Preta como patrimônio cultural e arquitetônico da Bahia. 
População local deve aproveitar o ano eleitoral e cobrar melhorias
Este ano é um ano eleitoral e a população local, principalmente, deve exigir dos candidatos o compromisso político em abraçar a causa e transformar Serra Preta numa potência cultural, artística e turística da Bahia. O prefeito atual pouco fez. Chegou a reformar a caixa d'água, mas descaracterizou a originalidade. Dividiu a pintura em duas partes, verde e amarelo, cores de sua gestão.

A candidata da oposição, Angélica, se comprometeu politicamente, em revitalizar a Sede, dentro dos critérios do IPHAN e PAC. Também, confirmou que se for eleita enviará em tempo ágio um projeto de Lei reconhecendo a importância histórica de Serra Preta. Vamos torcer para que o resgate da memória seja o interesse de todos. Só assim, Serra Preta poderá, a médio prazo, recuperar os tempos nobres que sempre teve.






8 comentários:

  1. Caro Mario Angelo, parabéns pela matéria, excelente fonte de consulta e informações, confesso-lhe que se já gostava desse município, hoje verdadeiramente a adoro.
    É dessas matérias enriquecedoras que os cidadãos precisam. No tocante maior a matéria circula em toda rede social, tornando a "nossa" Serra Preta, tão amada e mal tratada um aviso para os governantes e autoridades civis.
    Parabéns!!

    Fernando

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  2. Mario, mais uma vez venho lhe parabenizar pelo excelente artigo e falar que você descreve a nossa Serra Preta de uma maneira bastante peculiar, que me faz retornar ao meu tempo de criança quando morava aí e brincava no antigo barracão, subia ao monte e me divertia nas festas populares.
    Estou retornando aos poucos e tenho alguns projetos em mente para colocar em prática na nossa querida Serra Preta e pretendo começar no máximo em dezembro do corrente ano, espero contar com o apoio dos verdadeiros serra pretenses como você; Walter Vieira; Ivamberque e outros.
    Fica com Deus.
    Abraços

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  3. Caro Mário Angelo, solicito a sua gentileza, certa vez vi e ouvi não me lembro em quais dos Blogs de Serra Preta, um vidio de uma música que canta sobre Serra Preta. Tanto que eu gostaria de gravar tal música. Atenciosamente, Ivan Silva

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  4. meu pai nasceu em Serra Preta ele faleceu eu era muito pequena e minha mae evita falar sobre ele acho q ela ainda sofre com sua ausência mas hj sou maior de idade e consegui a segunda via do atestado de óbito e descobri que ele era natural da cidade então resolvi pesquisar mas afinal também faço parte dessa historia, fico triste de saber que a cidade esta praticamente abandonada... não podemos deixar a historia ser apagada pelo tempo...

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  5. Estarei prestando concurso em Serra Preta, e pretendo fixa moradia por ai. Participar do resgate desta maravilha cultural será uma honra.

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  6. Wellington14 abril, 2018

    Falando dos indios Paiaiás na cidade de serra preta anguera e cidades visinhos apenas ouve mistura de raças outros foram mortos e perseguidos ate mesmo mudarem os nomes minha avó aos 83 anos fala da origem dela nessa cidade onde avó dela foi retirada da mata logo minha familia dessa descendecia nao temos o resgistro Rani mais estou correndo atras para conseguir porque isso e um resgate da cultura e mostra que nessa regiao ainda tem descedentes de traços fortes. Welcamaro@bol.com.br

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    1. Parabéns pela preocupação também com o resgate de nossas origens. Continue investigando.

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  7. Parabéns Mário Ângelo.
    E de pessoas assim como vc que nossa Serra preta está precisando para que não deixem nossas raízes se acabar.
    E bem lembrado ano próximo que praticamente já está aí , que a população serrapretensse cobre deles um compromisso sério com esse povão .
    Porque eles vai aparecer pedindo votos e apoio para suas campanhas políticas .
    Grande abraço a todos.

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