22 de março de 2012

Testemunhas de Jeová contra o Nazismo

Como e por que uma pequena comunidade cristã na Alemanha se viu obrigada a lutar contra a perseguição pelo Nacional Socialismo


Durante o Terceiro Reich (1933-1945), as Testemunhas de Jeová foram ao lado dos judeus, homossexuais, comunistas e adversários políticos do nazismo, entre outros grupos, vítimas fatais do Nacional Socialismo de Hitler. Segundo o historiador François Bédarida, foram assassinados na Alemanha e em territórios ocupados pelos alemães, entre dois e três mil Testemunhas de Jeová, de um total que girava em torno de dez mil na época. Mas ao contrário do que acontecia com judeus e comunistas, cuja repulsa do nazismo vinha de um longo trabalho de manipulação política e ideológica, as tensões envolvendo os Testemunhas de Jeová e o regime hitlerista era explicada pelo projeto doutrinário desta pequena, mas obstinada comunidade cristã.

De acordo com os seus princípios religiosos, as Testemunhas de Jeová não podem jurar obediência a nenhum líder político. Seu compromisso é único e exclusivamente com Jeová e Jesus Cristo. Em 1933, quando Hitler chega ao poder, isso se torna um problema bastante grave. As Testemunhas de Jeová na Alemanha não só não podiam jurar obediência ao novo Fuhrer, como também não podiam fazer a saudação hitlerista ou permitir que os seus filhos aderissem à Juventude Hitlerista. Muito menos pegar em armas. O que fez com que os “Bibelforscher” (ou estudantes da Bíblia, como também eram conhecidos as Testemunhas de Jeová na Alemanha da década de 1930), passassem a ser vistos como opositores do regime nazista.

A perseguição e descriminação contra esta pequena comunidade cristã foi crescendo à medida que o nazismo foi se tornando mais forte na Alemanha. Seus textos foram queimados, seus líderes foram presos por insubordinação, os adeptos proibidos de se reunir ou de fazer conversões. A própria população alemã foi encorajada pelo governo a delatar Testemunhas de Jeová ao regime. A questão, no entanto, é que a repressão nazista não fez com que o grupo recuasse em seus princípios e devoções.

 Ao contrário de protestantes e católicos, que acabaram por se ajustar e até mesmo colaborar com o nacional socialismo, as Testemunhas de Jeová chegaram até mesmo a protestar contra o regime de Hitler. Carl von Ossietzky, intelectual, pacifista convicto e Testemunha de Jeová, foi o maior símbolo desta luta. Ossietzky escreveu diversos manifestos contra a opressão e perseguição dos nazistas. Seu trabalho ficou tão conhecido, inclusive fora da Alemanha, que em 1935 a Liga Alemã dos Direitos Humanos propôs para o seu nome par ao Prêmio Nobel da Paz. 

Constrangido com a situação, e tentando manter a imagem da Alemanha no estrangeiro, o marechal Goring foi pessoalmente ao campo de concentração de Dachau, onde Ossietzky encontrava-se preso, para comunicar que seu nome fora atribuído ao Prêmio Nobel da Paz e dizer que ele poderia deslocar-se à Suécia para a cerimônia. A condição era não criticar o nacional-socialismo. Ossietzky, porém, recusou a proposta e permaneceu no campo de concentração, o que foi considerado na época a sua grande vitória moral.

Testemunhas de Jeová, fotografados logo após ser libertados do campo de concentração nazista em 1945 na Alemanha
A resistência das Testemunhas de Jeová, no entanto, teve um custo bastante alto. No mesmo ano de 1935, a organização foi banida a nível nacional. Os nazistas plantaram documentos falsos – como era comum na época – apresentando-os como instrumentos e coparticipantes de uma conspiração judaica internacional. Transformaram-se em inimigos do Estado Alemão. Centenas de milhares de adeptos da religião foram enviados a campos de concentração dentro e fora da Alemanha. Os “triângulos roxo”, como eram conhecidos nos campos, devido ao emblema que levavam costurado à roupa de prisioneiro, morreram aos milhares após meses e até mesmo anos de trabalhos forçados, de violência física e psicológica.

RECONHECIMENTO

Durante muito tempo, a história das Testemunhas de Jeová permaneceram desconhecidas do grande público. Não apareciam nos livros escolares, no cinema ou em eventos sobre o holocausto. Nos últimos anos, porém, a historiografia, os governos e organizações não-governamentais reconheceram publicamente a história de luta e perseguição da comunidade dentro do contexto do nacional socialismo. No Brasil, o tema passou a aparecer nas aulas e nos materiais didáticos. No início dos anos 2000, Foi tema até de uma significativa exposição, chamada “Triângulos Roxos – As Vítimas Esquecidas do Nazismo”, que depois de passar por várias cidades europeias, esteve aberta ao público no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Sobral. O tema parecia, finalmente, incorporado a história contemporânea.

Fonte: Café História
Indicação feita por Edmilson Oliveira Cerqueira



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