29 de dezembro de 2011

Indústria calçadista baiana paga mal e prejudica saúde do trabalhador

Baixos salários, acidente de trabalho e assédio moral são características constantes
A indústria de calçados no Brasil participa com R$ 50 bilhões no Produto Interno Bruto nacional que, conforme o IBGE, alcançou os R$ 3,675 trilhões em 2010. No mesmo período, suas exportações foram da ordem de US$ 4,2 bilhões. Na Bahia, esse segmento comporta 70 unidades de produção divididas entre fábricas de calçados (50) e de componentes (20) e está presente em 33 cidades do interior baiano, o que contribui para ampliação do mercado de trabalho regional.

Entretanto, o modelo de instalação dessas indústrias é considerado inadequado, tem trazido sérios prejuízos à saúde do trabalhador, além de oferecer um achatamento salarial de 40% em relação aos outros estados brasileiros.

Esses resultados fazem parte da pesquisa realizada pelo professor Cristovão Brito, do Departamento de Geografia de do Programa de Pós-graduação em Geografia da Ufba, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado Bahia (Fapesb) para estudar o chamado polo calçadista baiano.

O estudo, intitulado “A indústria de calçados e suas implicações na organização do espaço regional” critica o atual modelo do setor que, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), está em 5º lugar no ranking da produção nacional.

Uma das principais conclusões da pesquisa é a dimensão política das decisões acerca da localização da instalação das indústrias calçadistas no estado que se sobrepõem a qualquer planejamento sistemático. Planejamento esse, por exemplo, que viabilize a constituição de um distrito industrial como nos moldes de Franca (SP) ou o Vale dos Sinos (RS).

“Nosso estudo conclui que a política de atração de indústria de calçados é ditada pelos empresários do segmento, pois são eles que exigem o local (de preferência sem concorrentes) do gestor estadual e municipal como querem, o que querem e quando querem. Depois, tanto o prefeito, com o governador, deputado estadual e/ou federal dão visibilidade pública à instalação da indústria na cidade, ‘anunciam a paternidade daquela conquista’ e o arranjo político está encaminhado perante o eleitorado”, afirma Cristovão Brito.

De acordo com Brito, como não obedece a uma política consistente de planejamento proposto pelo estado muito menos o município, um parque industrial, ou um verdadeiro polo industrial, fica impossibilitado, bem como a consolidação de uma cadeia produtiva do setor. “É uma política na qual as indústrias são desarticuladas entre si, são ilhas de produção”, esclarece.

Lesão e assédio – Outra questão seriíssima do estudo diz respeito à saúde dos operários das indústrias. A intensa rotina de trabalho, marcada pela esteira de produção, tem produzido um grande contingente de portadores de Lesão por Esforço Repetitivo (LER), Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) e graves mutilações de membros superiores (mãos, braços, dedos) motivadas por acidentes de trabalho.

Além disso, o setor apresenta uma assustadora precarização das relações de trabalho e baixíssimos salários (salário mínimo) pagos, o que representa em média 40% a menos em comparação aos salários de recebidos por seus colegas nas mesmas funções em fábricas localizados no Sul e Sudeste do Brasil. É uma verdadeira “legião de lesionados” que está sendo formada na Bahia.

Para agravar o quadro, esclarece o professor Brito, os trabalhadores são obrigados a cumprir metas de produção e, se não conseguem, são confrontados àqueles que conseguem através de ilustrações junto ao seu posto de trabalho. Algo próximo à exposição pública do “fracasso”.

“Não bastassem os crescentes casos de LER, DORT e mutilações, o assédio moral a que a mão-de-obra está submetida, quase toda muito jovem entre os 18 e 30 anos de idade, é prática corriqueira. Além disso, tomamos conhecimento de que há fábricas que ‘estimulam’ a ampliação da jornada de trabalho a partir de uma ‘terceirização’ perversa e fora da lei, isto é, operários levam trabalhos para serem executados em seus lares por familiares”, denuncia. (...) (Raimundo de Santana, da Agência Ciência e Cultura)


Fonte: Jornal da Mídia




























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