11 de fevereiro de 2020

Mais um ataque ao patrimônio Histórico de Serra Preta

Lombada de concreto é construído sobre pavimentação histórica

Não é de hoje que chamamos a atenção sobre a descaracterização da cidade de Serra Preta, elevada a vila em 1722. Serra Preta é uma cidade história ainda não tombada pela prefeitura, IPAC (governo Estadual) ou IPHAN (governo Federal). A cidade nasceu a partir do massacre dos índios Paiaiás, que controlavam a nascente de riacho - atualmente conhecida como Tanque dos Milagres ou Tanque Velho.

Sob domínio português, as terras  - cercadas pela Serra do Taquari e Serra Grande - deram lugar ao vilarejo de Boa Vista, que a partir de 1831 passou a se chamar de Serra Preta. Sua população nunca foi gigantesca. Atualmente, menos de 900 habitantes residem na cidade, mas parte da riqueza histórica foi preservada.

Serra Preta, localizada no semiárido baiano, possuiu casarios históricos, ruas de pavimentação colonial, uma bela Igreja no centro e um povo de formação afro-brasileira. Porém, essa riqueza está se perdendo a cada dia que se passa. Nos anos 90, se perdeu o Barracão, destruído pelo Poder Público (quem deveria preservar). Recentemente, o próprio Poder Público construiu uma lombada no início da Rua João Reis, a primeira rua do município.

Rua Cel João Reis, considerada a rua mais antiga de Serra Preta
A construção da lombada sobre uma calçada centenária é o exemplo flagrante do abandono e do desinteresse em preservar o patrimônio arquitetônico da cidade. A construção de obras sem planejamento, sem assinatura de especialista é a desconstrução da memória. É a celebração da ignorância patrocinada com recursos públicos. O pior disso tudo, é parte da população não perceber a agressividade que sua história foi submetida. É de espantar a naturalidade como foi executada uma obra de tão mau gosto. Será que o atual gestor vai inaugurar a lombada de concreto sobre o pavimentação histórica?

Em 2018, apresentei um seminário sobre o reconhecimento histórico da cidade de Serra Preta com a presença do gestor municipal. Parecia o início de uma lucidez sobre o abandono. Mas pouco se avançou sobre o Tombamento da cidade. Imaginei até que o projeto não saia, mas achei que a semente da preservação fora plantada. A bancada governista ficou de promover um debate mais qualificado na Câmara de Vereadores. Até hoje espero.  A surpresa mesmo ficou por conta da aberração da lombada. Sem sensibilidade administrativa, com certeza, surpresas ruins podem vir dobradas! O que parece obra pública, na verdade é uma arquitetura da destruição.

Mário Ângelo S. Barreto
Historiador, Bacharel em Direito 
e defensor do Tombamento Histórico
de da cidade de Serra Preta. 



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