Maduro reuniu apoiadores em frente ao Palácio de Miraflores, sede do Poder Executivo Foto: Telesur |
A terça-feira (30) amanheceu com uma declaração ameaçadora do autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó. Por volta das seis horas da manhã, ele divulgou em sua conta no Twitter um vídeo em que aparece ao lado de soldados uniformizados, convocando simpatizantes a tomarem “as ruas da Venezuela” e iniciarem a “parte final da Operação Liberdade”. A ação tinha, mais uma vez, o objetivo de tentar derrubar o presidente eleito do país, Nicolás Maduro. Ao final do dia, o saldo foi negativo para os que apostam em um golpe militar com o apoio dos Estados Unidos.
Na gravação de Guaidó, supostamente feita dentro da Base Aérea de La Carlota, na capital Caracas, o presidente autodeclarado aparecia ao lado de um pequeno grupo de militares. Também estava presente o opositor Leopoldo López, condenado à prisão domiciliar por incitar a violência no país.
Guaidó pedia que os militares o ajudassem a acabar com o que chamou de uma “usurpação” do poder por parte de Maduro. O levante com apoio de setores militares, no entanto, ficou na promessa: mais tentativa frustrada de desestabilizar Maduro – eleito democraticamente em maio de 2018.
Cerca de 50 manifestantes ficaram feridos durante os conflitos desta terça.
Apoio Militar
Embora Guaidó tenha afirmado que contava com o apoio dos militares, as Forças Armadas do país se mantiveram leais a Maduro. Houve registros de insurreição por pequenos grupos de militares de baixa patente, alguns dos quais se disseram "enganados" pela oposição.
Durante a tarde, Maduro negou que estivesse em curso um levante com respaldo das Forças Armadas: “Conversei com os comandantes de todas as REDI [Região Estratégica de Defesa Integral] e ZODI [Zonas Operacionais de Defesa Integral] do país, que me manifestaram sua total lealdade ao povo, à Constituição e à pátria”, declarou.
Manifestações
Embora Guaidó pretendesse mobilizar um grande número de simpatizantes, as manifestações que ocorreram no país não tiveram adesão popular. Durante todo o dia, não houve nenhum agrupamento massivo de venezuelanos contra Maduro – apenas focos isolados de protesto.
Como resposta, o líder chavista Diosdado Cabello convocou uma manifestação no Palácio de Miraflores, em Caracas. Milhares de simpatizantes do governo Maduro foram até a sede do governo para prestar sua solidariedade ao presidente e reafirmar seu compromisso com o mandatário eleito.
Leopoldo López
Ex-líder oposicionista e colega de partido de Juan Guaidó, Leopoldo López exilou-se ao final da tarde na embaixada do Chile em Caracas com sua mulher e sua filha após a tentativa de golpe. O político havia fugido, pela manhã, de sua casa, onde cumpria prisão domiciliar. À noite, ele foi transferido para a embaixada da Espanha.
Entre outras ações, o ex-deputado é acusado de fazer parte da tentativa de golpe que derrubou temporariamente o então presidente venezuelano Hugo Chávez, em 2002.
No Brasil
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, esteve em Washington, nos Estados Unidos, na segunda-feira (29) para discutir a situação da Venezuela com o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo. Após o encontro, o ministro afirmou que seria “fantástico” se os militares venezuelanos decidissem apoiar Guaidó.
Nesta terça-feira, o governo brasileiro se reuniu para uma discussão interna sobre a Venezuela. O encontro contou com a presença de Bolsonaro, de ministros de Estado e do vice-presidente Hamilton Mourão. Também esteve na reunião o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.
Após o encontro, Heleno afirmou que Guaidó é fraco militarmente e que o Brasil não pretende intervir no país vizinho. Segundo ele, “há o preceito constitucional e o Brasil vai manter, de não interferir em assuntos internos de países amigos. Eles sabem que não vamos intervir militarmente”.
Mourão também se posicionou sobre a situação na Venezuela, afirmando que o governo brasileiro aguardará o desfecho dos acontecimentos e que não cogita uma saída militar.
Histórico
As tentativas de desestabilizar o governo Maduro ocorrem desde que ele foi reeleito, em maio de 2018. No poder desde 2013, o mandatário venceu as eleições com 67% dos votos. De lá para cá, o sucessor de Hugo Chávez enfrentou fortes sanções aplicadas pelos Estados Unidos.
Maduro passa por um momento de intensificação das pressões regionais. No início de janeiro, o Grupo de Lima, do qual o Brasil faz parte, passou a frequentemente se posicionar contra o mandatário venezuelano. Criado em 2017 por iniciativa do governo peruano sob a justifica de “denunciar a ruptura da ordem democrática na Venezuela”, o bloco pediu que Maduro renunciasse para que o executivo chamasse novas eleições.
O capítulo mais recente das tentativas de golpe contra Maduro havia ocorrido em fevereiro deste ano, quando países, a pedido de Guaidó, tentaram forçar o ingresso de suposta ajuda humanitária na Venezuela.
* Com informações de Michele de Mello. Colaborou Tiago Angelo.
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