Profa. Tatiana, prof. Maurício e eu |
Se tudo ocorrer bem, dia 31 de
janeiro estarei na solenidade de formatura do curso de Direito da UFBA como formando. Escrevo
sem muita vaidade, mas sabendo das possíveis missões, que certamente, poderei
enfrentar. Acredite, fiz o curso como hobby, sem muita preocupação em concluir
e já sinto falta da ausência dos corredores da Faculdade.
Não é o primeiro curso superior
que frequento. Tive a sorte de romper as barreiras dos vestibulares, que sempre
foram tormentos para os filhos da pobreza como eu. Não só isso. Morar nas
repúblicas estudantis e se preocupar com as três refeições não são nada fáceis.
Mas aconselho que vale muito apena. Qualquer jovem pode tirar isso de letra em
busca do saber e de uma profissão digna.
Quando saí do Bravo, embora o
Bravo nunca saiu de mim, fui cursar Processo Petroquímico no antigo CEFET em
1997. Na época, era o novo CEFET, que se reestruturava do modelo do CENTEC. Me achava um cientista positivista nos laboratórios bem equipados. O
mundo da química trazia ligações perigosas (rs). Deixa pra lá...
Em 1998, fui cursar História na
UFBA. Não dava para levar os dois cursos. A decisão foi certeira e passei a
frequentar o campus de São Lázaro. Além da aulas de historiografia, o mais marcante desse período foi morar na
Residência Universitária da UFBA, Largo da Vitória. Já tinha morado a
Residência Padre Torrend no Tororó, mas a experiência da moradia na UFBA foi
melhor que o curso (em outro momento contarei).
Em 2002, o diploma veio como a dor do parto. Perdi o vínculo acadêmico, porém, passei em concurso
público, torne-me professor e fui contribuir na política em Serra Preta. Já era
filiado ao PT desde 1993. Casei, tive filhos, fiz cursos de aprimoramento,
passei a editar vídeos, jornais, blogs... Sempre gostei de comunicação. Já
ganhei dinheiro com serigrafia quando jovem.
Prof. Victor Paulo foi convidado para participar da banca |
Em 2012, li a matéria do jornal, onde informava que a UFBA estava realizando seu último vestibular. A prova da UFBA sempre foi
temida, mas eu gostava das temáticas exploradas. Falei para minha esposa que ia
fazer. Veio o sorriso de censura e de desafio ao mesmo tempo. Era como se meu tempo
estivesse passado. Agora, é comemorar a vitória dos mais jovens, até porque, eu era
voluntário em Feira de Santana, administrando uma Residência Estudantil para
baixa renda.
Queria fazer jornalismo, mas não
tinha curso a noite. Restou-me inscrever em Direito. Passei e entrei para a
turma histórica do último vestibular da UFBA. Quando fiz a matrícula, não sabia
como cursar. Casado, com filho, morava em Madre de Deus e também trabalhava em
Candeias. Ir todas as noites, durante seis anos no mínimo, não seria para qualquer um.
Logo veio a primeira greve e
perdi as férias. O calendário não ficou compatível com os trabalhos. Quando
estava de férias do trabalho, o estudo continuava durante o verão. Sei que
sacrifiquei muito a vida social. Sono, só 04 horas por noite. Porém, o curso foi cativando aos poucos, sentindo
um eterno estudante. Todo final de semestre, um acúmulo de leituras pendentes e ainda idas e vinda ao Bravo.
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Preciso concluir o curso para começar a estudar, pensava.
Há cada disciplina perdida,
desistida ou abandonada, ensaiava a vontade de buscar outros rumos. As matérias de processo civil eram um terror. Em Execução - Civil IV - uma professora portuguesa, muito legal, mas pouco entendia o que falava. A sorte, que ela seguia o livro do professor Fredie Didier. Gostava sempre de ler os textos do professor Durval Neto na rede social. Às vezes, a gente trocava ideia também. Era no mundo virtual que eu percebia que a egreja Faculdade de Direito da UFBA, como dizia o professor Manoel Jorge, fazia parte de uma realidade de Doutores de carne e osso. Muitos tinham vidas conquistadas com muitas batalhas diárias.
Professora Tatiana presidiu a Banca Examinadora |
Não desisti. Dia 09 de dezembro de 2019, fiz a defesa do Trabalho de Conclusão de
Curso - TCC, orientado pelo professor Maurício Azevedo. Na verdade, minha banca
examinadora foi de orgulhar qualquer um que sonha em um mundo melhor. Além de
Azevedo, contei com a presença da professora Tatiana Gomes e Victor Paulo das
Neves. A nota de aprovação foi excelente, mas as críticas também. Escrevi sobre o
acesso ao espectro comunicativo no Brasil, que atualmente encontra-se concentrado
sob o poder de poucas famílias. A comunicação brasileira segue as estruturas do
passado, ferindo a proposta democrática da Constituição de 1988.
Enfim, hoje, já acordei com
saudades, mas com um peso a menos. Não tenho a obrigação institucional de ler, escrever peças jurídicas...
Quem aproveita dessa situação é meu filho Daniel, que contava os dias para a
gente ir a praia ou montar de bicicleta. Certamente, essas férias voltarei a
ter a pele escura que tinha quando morava no semiárido. No instante que
escreve, alguém me convida, por telefone, para participar de um grupo político
em Serra Preta chamado "Mudança de Verdade". Acho que em 2020 não vou
descansar. A luta me chama!
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Muito bom
ResponderExcluirO conhecimento adquirido, fica agora e compromisso em colocar a servico daqueles menos favorecido.
Esse e o Grande dasafio.
Afinal a quem e mais dado, mais sera cobrado