15 de dezembro de 2019

Bacharel em Direito: mais uma graduação para administrar

Profa. Tatiana, prof. Maurício e eu
Se tudo ocorrer bem, dia 31 de janeiro estarei na solenidade de formatura do curso de Direito da UFBA como formando. Escrevo sem muita vaidade, mas sabendo das possíveis missões, que certamente, poderei enfrentar. Acredite, fiz o curso como hobby, sem muita preocupação em concluir e já sinto falta da ausência dos corredores da Faculdade.

Não é o primeiro curso superior que frequento. Tive a sorte de romper as barreiras dos vestibulares, que sempre foram tormentos para os filhos da pobreza como eu. Não só isso. Morar nas repúblicas estudantis e se preocupar com as três refeições não são nada fáceis. Mas aconselho que vale muito apena. Qualquer jovem pode tirar isso de letra em busca do saber e de uma profissão digna.

Quando saí do Bravo, embora o Bravo nunca saiu de mim, fui cursar Processo Petroquímico no antigo CEFET em 1997. Na época, era o novo CEFET, que se reestruturava do modelo do CENTEC. Me achava um cientista positivista nos laboratórios bem equipados. O mundo da química trazia ligações perigosas (rs). Deixa pra lá...

Em 1998, fui cursar História na UFBA. Não dava para levar os dois cursos. A decisão foi certeira e passei a frequentar o campus de São Lázaro. Além da aulas de historiografia, o mais marcante desse período foi morar na Residência Universitária da UFBA, Largo da Vitória. Já tinha morado a Residência Padre Torrend no Tororó, mas a experiência da moradia na UFBA foi melhor que o curso (em outro momento contarei).

Em 2002, o diploma veio como a dor do parto. Perdi o vínculo acadêmico, porém, passei em concurso público, torne-me professor e fui contribuir na política em Serra Preta. Já era filiado ao PT desde 1993. Casei, tive filhos, fiz cursos de aprimoramento, passei a editar vídeos, jornais, blogs... Sempre gostei de comunicação. Já ganhei dinheiro com serigrafia quando jovem.
Prof. Victor Paulo foi convidado para participar da banca
Em 2012, li a matéria do jornal, onde informava que a UFBA estava realizando seu último vestibular. A prova da UFBA sempre foi temida, mas eu gostava das temáticas exploradas. Falei para minha esposa que ia fazer. Veio o sorriso de censura e de desafio ao mesmo tempo. Era como se meu tempo estivesse passado. Agora, é comemorar a vitória dos mais jovens, até porque, eu era voluntário em Feira de Santana, administrando uma Residência Estudantil para baixa renda.

Queria fazer jornalismo, mas não tinha curso a noite. Restou-me inscrever em Direito. Passei e entrei para a turma histórica do último vestibular da UFBA. Quando fiz a matrícula, não sabia como cursar. Casado, com filho, morava em Madre de Deus e também trabalhava em Candeias. Ir todas as noites, durante seis anos no mínimo, não seria para qualquer um.

Logo veio a primeira greve e perdi as férias. O calendário não ficou compatível com os trabalhos. Quando estava de férias do trabalho, o estudo continuava durante o verão. Sei que sacrifiquei muito a vida social. Sono, só 04 horas por noite. Porém, o curso foi cativando aos poucos, sentindo um eterno estudante. Todo final de semestre, um acúmulo de leituras pendentes e ainda idas e vinda ao Bravo. 

- Preciso concluir o curso para começar a estudar, pensava.

Há cada disciplina perdida, desistida ou abandonada, ensaiava a vontade de buscar outros rumos. As matérias de processo civil eram um terror. Em Execução - Civil IV - uma professora portuguesa, muito legal, mas pouco entendia o que falava. A sorte, que ela seguia o livro do professor Fredie Didier. Gostava sempre de ler os textos do professor Durval Neto na rede social. Às vezes, a gente trocava ideia também. Era no mundo virtual que eu percebia que a egreja Faculdade de Direito da UFBA, como dizia o professor Manoel Jorge, fazia parte de uma realidade de Doutores de carne e osso. Muitos tinham vidas conquistadas com muitas batalhas diárias. 

Professora Tatiana presidiu a Banca Examinadora
Não desisti. Dia 09 de dezembro de 2019, fiz a defesa do Trabalho de Conclusão de Curso - TCC, orientado pelo professor Maurício Azevedo. Na verdade, minha banca examinadora foi de orgulhar qualquer um que sonha em um mundo melhor. Além de Azevedo, contei com a presença da professora Tatiana Gomes e Victor Paulo das Neves. A nota de aprovação foi excelente, mas as críticas também. Escrevi sobre o acesso ao espectro comunicativo no Brasil, que atualmente encontra-se concentrado sob o poder de poucas famílias. A comunicação brasileira segue as estruturas do passado, ferindo a proposta democrática da Constituição de 1988.

Enfim, hoje, já acordei com saudades, mas com um peso a menos. Não tenho a obrigação institucional de ler, escrever peças jurídicas... Quem aproveita dessa situação é meu filho Daniel, que contava os dias para a gente ir a praia ou montar de bicicleta. Certamente, essas férias voltarei a ter a pele escura que tinha quando morava no semiárido. No instante que escreve, alguém me convida, por telefone, para participar de um grupo político em Serra Preta chamado "Mudança de Verdade". Acho que em 2020 não vou descansar. A luta me chama!


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Um comentário:

  1. Muito bom
    O conhecimento adquirido, fica agora e compromisso em colocar a servico daqueles menos favorecido.
    Esse e o Grande dasafio.
    Afinal a quem e mais dado, mais sera cobrado

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