6 de outubro de 2019

Estamos vivendo a Era do Fogo e Serra Preta corre perigo

Capela histórica pega fogo em Diamantina (MG)
As queimadas nunca foram surpresas para mim. Tenho recordações muito fortes sobre os incêndios. Na minha cidade em Bravo, que vivi exclusivamente até os 19 anos, o incêndio do Bar de Zeca na década de 80 marcou muito. Comoveu a comunidade. Era um bar referência, administrado por pessoas queridas. Recentemente, perdemos a 'padaria Vigor' de Fábio Lima. Mais um patrimônio que se foi.

Os comércios foram reconstruídos. O fogo deu prejuízo, mas os proprietários deram a volta por cima. Mas há incêndios que destroem mais do que capital e com prazo de recuperação a longo prazo. Lembro das fortes queimadas na Chapada Diamantina. Meus avós maternos são de Andaraí - centro da bela Chapada. Quando criança, o limite do terreiro era as matas. Hoje, a Chapada é um campo limpo. As queimadas criminosas consumiram quase tudo!

Em Serra Preta, na terra dos meus avós paternos, não foi diferente. Serra Preta está no semiárido baiano. Quando a seca, fenômeno natural, resolve se instalar, dura anos de forte estiagem. Mesmo assim não serviu de lição para evitar as queimadas criminosas. Quando pequeno, era comum a gente presenciar a fuga de animais silvestres correndo de intensas queimadas criminosas. Uma das maiores queimadas deu nome a fazenda 'Queimada Grande' - cinismo!

Atualmente, as queimadas continuam nos aterrorizando. Os biomas brasileiros estão em chamas, com maior visibilidade para a Amazônia, Pantanal e Cerrado. São crimes graves que merecem toda a atenção e punição, porém, desejo destacar a perda do nosso patrimônio histórico pelo fogo. Muitos encaram como acidente, mas olho como descaso.

Capitalistas ocidentais doaram 600 milhões de Euros
para recuperar Notre-Dame
Paris chorou e viu mais de 800 anos de história ser consumidos pelo fogo. O incêndio foi audacioso e ignorou até a forte reforma, de 11 milhões de Euros, que passava a Catedral de Notre-Dame, financiada pelo governo francês. Não sobrou nada, mas os capitalistas ocidentais doaram 600 milhões de Euros para recuperar a bela igreja gótica. Até a brasileira Lily Safra se comoveu e doou 88 milhões de reais para a Catedral francesa. Segundo o presidente Macron, em cinco anos, devolverá a Catedral para os católicos rezarem e os turistas - menos religiosos -  tirarem selfies.

O mesmo não acontece com o nosso patrimônio histórico. Perdemos museus e igrejas históricas para os incêndios e continuamos sem planos estratégicos para evitar novas tragédias. Também, não se têm grandes comoções para recuperá-los, principalmente quando o patrimônio não recebe forte repercussão na mídia. Foi o que aconteceu com a Igreja do município de Monte Santo. Um incêndio atingiu a Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus durante a madrugada e consumiu metade da igreja, construída em 1927. Não fiquei sabendo de grandes doações. Numa pesquisa rápida no google, fiquei sabendo que o deputado estadual Laerte do Vando doou R$ 10 mil para a restauração. 

Sem estrutura contra incêndio, Igreja de Serra Preta corre riscos
Nesta sexta-feira (04), recebemos a triste notícia da destruição da  Igrejinha histórica de Santa Rita de Cássia em Minas Gerais. A igreja, que é tombada pelo município, está localizada no distrito de Sopa, em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha.

Gastei mais da metade do texto para justificar e lembrar que a cidade de Serra Preta, elevada a condição de Vila em 1722, possui uma Igreja histórica pouco lembrada. A Igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho não é tombada, não passou por uma boa reforma estruturante, nem possui nenhum tipo de prevenção contra incêndio. Serra Preta não conta com bombeiros, nem possui hidrante na cidade.

Desde 1995 que venho chamando a atenção para uma avaliação técnica e tombamento de boa parte do sítio urbano da cidade de Serra Preta. O barracão histórico foi destruído pelo poder público, que deveria ter a missão de proteger. A nascente de riacho, conhecida como Tanque dos Milagres, agoniza com a poluição de suas águas. Como vivemos na 'Era do Fogo', tenho receio que Nero resolva visitar nossa querida Serra Preta. Vão esperar o que?

Mário Ângelo S. Barreto
Professor de História


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