Capela histórica pega fogo em Diamantina (MG) |
Os comércios foram
reconstruídos. O fogo deu prejuízo, mas os proprietários deram a volta por
cima. Mas há incêndios que destroem mais do que capital e com prazo de recuperação a longo
prazo. Lembro das fortes queimadas na Chapada Diamantina. Meus avós maternos
são de Andaraí - centro da bela Chapada. Quando criança, o limite do terreiro
era as matas. Hoje, a Chapada é um campo limpo. As queimadas criminosas consumiram
quase tudo!
Em Serra Preta, na terra dos
meus avós paternos, não foi diferente. Serra Preta está no semiárido baiano.
Quando a seca, fenômeno natural, resolve se instalar, dura anos de forte
estiagem. Mesmo assim não serviu de lição para evitar as queimadas criminosas.
Quando pequeno, era comum a gente presenciar a fuga de animais silvestres correndo
de intensas queimadas criminosas. Uma das maiores queimadas deu nome a fazenda 'Queimada Grande' - cinismo!
Atualmente, as queimadas
continuam nos aterrorizando. Os biomas brasileiros estão em chamas, com maior
visibilidade para a Amazônia, Pantanal e Cerrado. São crimes graves que merecem
toda a atenção e punição, porém, desejo destacar a perda do nosso patrimônio
histórico pelo fogo. Muitos encaram como acidente, mas olho como descaso.
Capitalistas ocidentais doaram 600 milhões de Euros para recuperar Notre-Dame |
Paris chorou e viu mais de 800 anos
de história ser consumidos pelo fogo. O incêndio foi audacioso e ignorou até a
forte reforma, de 11 milhões de Euros, que passava a Catedral de Notre-Dame, financiada
pelo governo francês. Não sobrou nada, mas os capitalistas ocidentais doaram 600
milhões de Euros para recuperar a bela igreja gótica. Até a brasileira Lily Safra se comoveu e doou 88
milhões de reais para a Catedral francesa. Segundo o presidente Macron,
em cinco anos, devolverá a Catedral para os católicos rezarem e os turistas -
menos religiosos - tirarem selfies.
O mesmo não acontece com o
nosso patrimônio histórico. Perdemos museus e igrejas históricas para os
incêndios e continuamos sem planos estratégicos para evitar novas tragédias.
Também, não se têm grandes comoções para recuperá-los, principalmente quando o
patrimônio não recebe forte repercussão na mídia. Foi o que aconteceu com a
Igreja do município de Monte Santo. Um
incêndio atingiu a Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus durante a madrugada e
consumiu metade da igreja, construída em 1927. Não fiquei sabendo de grandes doações. Numa pesquisa rápida no google, fiquei sabendo que o deputado estadual Laerte do Vando doou R$ 10 mil para a restauração.
Sem estrutura contra incêndio, Igreja de Serra Preta corre riscos |
Nesta sexta-feira (04), recebemos a triste notícia da destruição da Igrejinha histórica de Santa Rita de Cássia em Minas
Gerais. A igreja, que é tombada pelo município, está localizada no distrito de Sopa, em Diamantina,
no Vale do Jequitinhonha.
Gastei mais da metade do texto para justificar e lembrar que a cidade de
Serra Preta, elevada a condição de Vila em 1722, possui uma Igreja histórica pouco
lembrada. A Igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho não é tombada, não passou por uma boa reforma estruturante, nem
possui nenhum tipo de prevenção contra incêndio. Serra Preta não conta com
bombeiros, nem possui hidrante na cidade.
Desde 1995 que venho chamando a atenção para uma avaliação técnica e
tombamento de boa parte do sítio urbano da cidade de Serra Preta. O barracão
histórico foi destruído pelo poder público, que deveria ter a missão de
proteger. A nascente de riacho, conhecida como Tanque dos Milagres, agoniza com a poluição de suas águas. Como vivemos na 'Era do Fogo', tenho receio que Nero resolva visitar
nossa querida Serra Preta. Vão esperar o que?
Mário Ângelo S. Barreto
Professor de História
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