Dona Ditinha e Seu Daniel eram referências em Serra Preta |
Morreu nesta terça-feira (23), Benedita Santana
Silva, conhecida como Dona Ditinha, aos 90 anos. no distrito de Bravo. Dona Ditinha tinha
completado idade nova no dia 02 de julho, data da independência da Bahia.
A matriarca estava acamada há alguns anos.
Diagnosticada com o mal de Alzheimer, Dona Ditinha viveu seus últimos dias de
vida no distrito de Bravo, 170 km de Salvador, ao lado da filha afetiva Daniela,
sua fiel cuidadora. Dona Ditinha era viúva. Foi casada com Daniel da Silva Pereira, falecido em
2003, e deixou mais dois filhos: Faninho e Pedro - que mora em São Paulo.
Trajetória
Dona Ditinha recebia políticos locais e regionais em sua residência |
Ao lado de seu esposo Daniel, Dona Ditinha marcou
épocas em Serra Preta. Comandou um dos terreiros de candomblé mais ativo no município.
O terreiro religioso era sua própria morada, localizado na zona rural de
Mandassaia. 06 de janeiro era data auge dos rituais e comemorações. Toda a região frequentava
os rituais e festejos durante 03 dias. Diversas caravanas, inclusive de outros municípios,
lotavam as dependências e as áreas livres do Terreiro.
Além do povo, que busca cura e proteção, Dona
Ditinha recebia personalidades importantes de toda a Bahia. Segundo sua neta
Janaina Barreto, considerada filha por Dona Ditinha, era comum a presença de
políticos em busca de apoio e benção. Os ex-deputado e ex-prefeito de Feira de
Santana, José Falcão - falecido em 1997 - era franco frequentador e sempre prestigiava
o trabalho religioso da matriarca. Nas eleições municipais, muitos candidatos
apareciam em busca de proteção e vitória eleitoral.
O sincretismo religioso era a marca de Dona
Ditinha. Embora Mãe de Santo respeitada, se dizia católica e devota de Santo Antônio,
onde frequentava a religião romana no distrito de Bravo. Era sempre presença
certa no Trezenário de Santo Antônio no mês de junho. A prova da fé católica era
tão grande que Dona Ditinha viajava quase todos os anos para Bom Jesus da Lapa.
Também, foi frequentadora das romarias para Juazeiro do Norte no Ceará, atrás
dos milagres de Padre Cícero; Aparecida, São Paulo e colecionava diversas artes sacras.
Populares frequentavam o terreiro em busca de proteção |
Para a neta Janaína Barreto, a matriarca não só
se dedicava a sua fé. Na falta de médico, além das benzas, Dona Ditinha
realizou diversos partos em Serra Preta e região. “Quantas vezes ela saiu tarde
da noite para realizar parto de pessoas que não tinham acesso a atendimento
médico, inclusive parto de risco”, revela. Como recompensa, Dona Ditinha ganhou
muitos afilhados para batizar. Era comum o terreiro ser aberto para diversos
batizados coletivos católicos. Adailton Barreto, irmão do professor Mário
Ângelo Barreto, foi batizado por Valdemar Figueiredo no ambiente sagrado da
Mandassaia. Sua irmã, Milézia Barreto, veio ao mundo graças a atividade de
parteira de Dona Ditinha, que também a batizou.
Dona Ditinha tinha espírito forte e
controladora. Próximo ao seu Terreiro, morava boa parte da família de seu
esposo. Era um território de irmandade muito semelhante a uma comunidade
quilombola. A família amava e ama o local considerado sagrado, mas tem uma
ligação muito forte com São Paulo. A própria Dona Ditinha viajava sempre para
São Paulo, mas sempre retornava a Serra Preta. “Minha avó fazia de São Paulo caminho de roça, junto com meu avô”,
lembra Janaína.
O declínio
A matriarca não só teve tempos de glórias. Colecionou
amigos e inimigos também, principalmente em disputa por posição religiosa.
Porém, o maior atentado que sofreu foi quando muitos convidados tiveram os pneus
de seus carros cortados ao participar das festividades do terreiro. A partir de
então, a frequência nunca foi a mesma. Os frequentadores passaram a se sentir
inseguros. Sem apoio público, o terreiro religioso entrou em declínio.
Dona Ditinha e seu esposo Daniel passaram a
morar em Bravo, na Praça da Igreja, onde Seu Daniel abriu o “Bar Amigo do Povo”,
recebendo trabalhadores rurais da região. O bar se tornou ponto de referência
até ser vítima do câncer de próstata em 2003. A força do tempo e as perdas,
naturalmente, abateram Dona Ditinha, que praticamente entrou no anonimato, onde
recebia poucas visitas.
A partir dos anos 2010, Dona Ditinha não era
mais a mesma. Perda de memória, relações conturbas, atitudes inesperadas davam
sinais que a saúde da matriarca não era mais a mesma. Quem sempre ajudou, agora
precisava de ajuda. Mesmo abatida pelo mal de Alzheimer e a idade avançada,
Benedita Pereira lutou até os últimos minutos. Benedita não resistiu ao dar
entrada no hospital municipal de Serra Preta, nesta segunda-feira (22), vindo a falecer
hoje pela manhã. O sepultamento acontecerá no cemitério Lar da Saudade em Bravo às 9h.
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meus pêsames a todos que deus conforte o coração, no seu tempo! por que Só o tempo cura essa dor!
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