Motivado pela declaração do presidente Jair Bolsonaro sobre comemorar o
31 de março, que marcou o golpe de 64, Paulo Coelho descreve, em artigo
publicado pelo The Washington Post, a tortura a que foi submetido em 1974
O escritor Paulo Coelho foi preso e torturado em 1974, durante a ditadura militar Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão |
Maria Fernanda Rodrigues, O Estado de
S. Paulo
Em artigo escrito para o The Washington Post e publicado nesta
sexta, 29, o escritor brasileiro Paulo Coelho descreveu a tortura
que sofreu durante a ditadura militar. Autor de O Alquimista, entre outras
obras que se tornaram best-sellers internacionais, Paulo Coelho era,
à época, compositor.
Paulo Coelho escreve que sua casa foi invadida no dia 28 de maio de
1974 e ele foi levado ao DOPS (Departamento
de Ordem Política e Social), fichado e fotografado. Liberado pouco depois, pega
um táxi, que é fechado por outros dois carros, e ele é tirado de lá por homens
armados. Apanha no caminho, depois na sala de tortura. Quando permitem que ele
tire o capuz, se dá conta de que está numa sala a prova de som com marcas de
tiro nas paredes. A tortura segue, ele conta.
“Depois de não sei quanto
tempo e quantas sessões (o tempo no inferno não se conta em horas), batem na
porta e pedem para que coloque o capuz. (...) Sou levado para uma sala pequena,
toda pintada de negro, com um ar-condicionado fortíssimo. Apagam a luz. Só
escuridão, frio, e uma sirene que toca sem parar. Começo a enlouquecer, a ter
visões de cavalos. Bato na porta da 'geladeira' (descobri mais tarde que
esse era o nome), mas ninguém abre. Desmaio. Acordo e desmaio várias vezes, e
em uma delas penso: melhor apanhar do que ficar aqui dentro."
Paulo
Coelho dá
todos os detalhes sobre o que sofreu e conta ainda que anos mais tarde, quando
os arquivos da ditadura foram abertos,
ele teve a chance de saber quem o denunciou, mas não quis. “Não vai mudar o
passado”, escreve.
O
escritor teve a iniciativa de publicar essa história quando o presidente Jair Bolsonaro sugeriu que os quartéis celebrassem o dia
31 de março, data que marca o golpe militar de 1964, e também porque Bolsonaro disse, no Congresso, que Carlos Alberto Brilhante, “um dos
piores torturadores”, nas palavras de Paulo Coelho, era seu ídolo.
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