Capina do Monte será valorizada, segundo prefeito eleito Aldinho. Foto: Facebook de Elizeu Santana |
A festa não pode morrer. Essa
foi à frase que mais se ouviu durante a festa centenária em Serra Preta, 148 km
de Salvador. A tradicional Capina do Monte acontece todo dia 15 de dezembro e
ontem não foi diferente. Sob um sol forte, trabalhadores rurais e simpatizantes
subiram o monte na cidade de Serra Preta, rezando e capinando uma rústica
estrada que começa da base e vai até o cume. Em seguida, uma pequena charanga
percorre as ruas da charmosa cidade do século XVIII.
Não se sabe ao certo a
origem da festa. Mas não há dúvida de que se trata de uma festa promovida pela
comunidade negra, que compõe absolutamente a população local. A cidade de Serra
Preta, com menos de mil habitantes, é um local tipicamente descendentes de escravos negros. O vereador Sérgio Moreira (PT),
defensor das políticas afirmativas para a negritude, afirma que a festa da
Capina do Monte vai para além da festividade e dos adereços. Para Moreira, a
festa surge em comemoração à abolição da escravatura em 1888.
Para o vereador Sérgio Moreira, a Capina do Monte vai além de uma simples festa |
Segundo Sérgio Moreira, negar a
origem do evento ou mesmo relativizar absolutamente os principais atores da
festa, é tentar de alguma forma ignorar a luta de resistência e o sofrimento
que a comunidade negra de Serra Preta viveu e vive, mesmo com a libertação do
século XIX. De fato, os elementos Intrínsecos e extrínsecos que
compõem a Capina do Monte, evidenciam as tradições negras, embora haja uma
forte presença do sincretismo religioso católico.
A
festa da Capina do Monte, ainda que de forma inconsciente dos participantes,
exterioriza a dominação centenária do local. A cidade de Serra Preta não se
desenvolveu por causa da continuidade do latifúndio que certa a cidade.
Fazendas de uma elite baiana controlam quase que toda a terra produtiva ao
redou da cidade. A cidade de Serra Preta é uma ilha, com sua gente empobrecida,
cravada no latifúndio. Apenas uma terra pública, chamada de Caboronga, é disponibilizada para o plantio de subsistência.
Liberdade e Resistência
De costa, o prefeito eleito Aldinho observa o samba de roda da Capina do Monte |
Se
a Capina do Monte teve sua origem na libertação dos negros do julgo português e
seus descendentes, a manutenção é um verdadeiro desafio. Talvez, os aspectos a
ser valorizados não atraem o grande capital rural, nem mesmo o poder público.
Com já afirmamos diversas vezes, a Capina do Monte fica menor a cada ano que
passa. Até que em 2016, a festa foi animada, mas está longe de ser o que a
população relata das festas anteriores.
Praticamente,
às 16h a festa acaba. Não há atração de um grande público. Para os
organizadores, o fato de a festa acontecer no meio de semana, dificulta a
presença de trabalhadores e turistas. Para sanar este obstáculo, os
organizadores, através de consulta popular, conseguiram mudar a festa para todo
o segundo domingo do mês de dezembro. Parece simples, mas a alteração da data sofreu
resistência de moradores, que acreditam que pode quebrar a tradição.
Com jovens e crianças, Aldinho se comprometeu a fortalecer o evento a partir de 2017 |
Outro
problema enfrentado é a falta de patrocinadores. A prefeitura local pouco ajuda.
Porém, é fácil perceber a presença de diversas lideranças políticas em busca de
promoção pessoal. Muitos apenas marcam presença, pagam bebidas em bares locais
e somem.
Este
ano, o prefeito eleito Aldinho esteve no evento e se comprometeu a
disponibilizar a estrutura básica do poder público em prol da Capina do Monte.
Na verdade, o compromisso de Aldinho é grandioso para a Sede do município, já
que tem a missão do tombamento da cidade e de suas tradições. “Para o próximo
ano, me comprometo de imediato com a logística de transporte, alimentação e
apoio para as atrações musicais. Nossa gestão vai priorizar a Capina do Monte e
ajudar o evento a ter o lugar que a festa merece em nosso calendário municipal”,
afirmou.
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