13 de agosto de 2015

"Jurandy é o herói dessa tragédia grega", diz diretor de filme sobre caso Geovane

"Meu desejo não é conduzir uma investigação, que já foi concluída, mas de retratar o lado humano desse drama"
Cineasta fala sobre filme
 (Foto: Evandro Veiga)
Em 24 de agosto do ano passado, quando o corpo de Geovane Mascarenhas de Santana, 22, foi enterrado no município de Serra Preta, o cineasta Bernard Attal estava lá. Após acompanhar a história pelo CORREIO, Bernard decidiu levar a história ao cinema.
O que te levou a produzir o documentário?Eu acompanhei a cobertura do caso Geovane pelo CORREIO e fiquei abismado de pensar que, se não fosse pela postura corajosa de Jurandy, o pai de Geovane, e a investigação conduzida por esse jornal, essa tragédia teria caído no silêncio. A sociedade está chocada pelos crimes de decapitação cometidos pelo Estado Islâmico, mas, quando acontece no seu próprio quintal, ela não reage como deveria.
Como o filme foi pensado?Meu desejo não é conduzir uma investigação, que já foi concluída, mas de retratar o lado humano desse drama,  contar o desespero dos participantes, suas emoções,  conflitos, e também dar a palavra aos especialistas em Segurança Pública e Direitos Humanos e aos governantes e autoridades públicas. Eu gostaria de me aproximar da forma da tragédia grega, que tinha como eixo central o drama dos protagonistas e o coro para ajudar a entender sua complexidade.
O documentário fará um paralelo com a morte de Michael Brown, um negro de 18 anos morto pela polícia nos EUA. Por quê? O caso aconteceu na mesma semana do drama de Geovane, em agosto de 2014, na cidade de Ferguson, nos EUA, onde um policial matou pelas costas um jovem negro sem motivo aparente. Mas, lá, o caso  causou grandes manifestações, o presidente Obama se pronunciou, artistas importantes participaram do velório. Aqui, a população ficou fascinada pela violência, mas fora da rede social e de alguns grupos defensores dos direitos humanos, poucos gritaram sua indignação e ninguém foi na rua.
Sobre o caso Geovane, o que lhe chama atenção? Infelizmente, não é um fato isolado. Mas o caso revelou um nível de barbaridade que ninguém achou possível. Se tornou emblemático do que está acontecendo em nossa sociedade: nossa apatia diante da violência, a profunda desigualdade que existe ainda entre os bairros pobres e os bairros  “nobres” e a dificuldade dos governantes de articular uma política de segurança pública coerente.
O que você tem a dizer sobre o Jurandy? Jurandy é o herói dessa tragédia grega, que não desistiu até enterrar seu filho com decência. Ele não aceitou a ideia de que o corpo do Geovane poderia apodrecer num matagal. Desafiou as autoridades até cumprir sua missão.

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