4 de março de 2015

Trote gera polêmica em meio à comunidade acadêmica

Os calouros do curso de arquitetura da Universidade Federal da Bahia (Ufba) foram recebidos, na última segunda-feira, primeiro dia de aula, com um trote polêmico: um boneco enforcado de cor preta, com os nomes dos alunos, foi colocado no meio do pátio da instituição.
A atividade, programada pelos veteranos, teve repercussão negativa e gerou inúmeras mensagens nas redes sociais. No grupo da Ufba no Facebook, estudantes e funcionários avaliaram o ato como símbolo de violência e racismo.
Em uma das postagens publicadas, da autoria de Cynthia Araújo, que é aluna e funcionária da instituição, ela questionou a forma como os calouros foram recepcionados pelos veteranos.
"O boneco me causou estranhamento assim que o vi, pelo fato de ele ser da cor preta, por estar 'enforcado' e por simbolizar um calouro.  Na minha opinião, trata-se de uma violência simbólica que, posteriormente, pode evoluir para um caso de violência física", disse.
Romário Oliveira, 23, estudante do 8º semestre de licenciatura em desenho e plástica, que frequenta regularmente o prédio da Faculdade de Arquitetura, contou que se sentiu ofendido com o trote, embora não tenha sido direcionado aos alunos do seu curso.
"O boneco pode ter sido confeccionado daquela forma sem a intenção de ofender ninguém, no entanto, demonstra a forma como alguns alunos tratam a questão racial dentro da universidade", disse.
Um aluno do curso de arquitetura, que não quis ser identificado, afirmou que a brincadeira não teve cunho racista e que, assim que a discussão sobre o trote foi iniciada nas redes sociais, o boneco foi retirado.
"Não consegui enxergar racismo nem violência. Foi uma brincadeira. O fato de o boneco ser preto é uma coincidência. Fizemos brincadeiras parecidas em anos anteriores, com bonecos confeccionados com outros materiais e não gerou polêmica", disse.
No Facebook, a discussão gerou troca de ofensas entre alunos com opiniões distintas sobre o trote.
Debate
Por meio de nota, o Diretório dos Estudantes de Arquitetura (DEA) informou que o trote foi organizado de forma independente.
"O aluno que se disponibilizou a confeccionar o boneco afirma que não houve nenhuma intenção racista no uso do material e que este teria sido feito com o tecido que sua mãe tinha disponível em casa", esclareceu o diretório.
"Gostaríamos de esclarecer que o DEA não apoia nenhum tipo de manifestação de preconceito racial nem a prática de trotes violentos", completou a nota.
De acordo com a diretora da Escola de Arquitetura, Naia Alban Suarez, a universidade não vai procurar apontar os responsáveis pelo trote, mas explorar a polêmica como forma de discutir a violência e o preconceito de raça.
"A universidade é um ambiente propício para discussão de temas importantes. Vamos ouvir os alunos, tanto os que se sentiram incomodados quanto os que promoveram o trote, para entender diferentes pontos de vista", disse.
Para tanto, a diretoria vai promover, nos próximos dias, debates com os estudantes: "Nos reunimos com os pró-reitores e concluímos que essa é a melhor maneira de lidar com o assunto".

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