Ele negou pedido do Ministério Público Federal para que o Google fosse obrigado a retirar 15 vídeos ofensivos às duas crenças do ar; procurador já recorreu
Paulo Ponto/Estadão. Ritual umbandista na Tenda Pai Joaquim
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RIO - O juiz federal Eugenio Rosa de Araújo, da 17.ª Vara Federal do
Rio, afirmou em uma sentença que "as manifestações religiosas
afro-brasileiras não se constituem em religiões". Referindo-se à umbanda
e ao candomblé, o magistrado afirmou que "não contêm os traços
necessários de uma religião" por não terem um texto-base (como a Bíblia
ou o Corão), uma estrutura hierárquica nem "um Deus a ser venerado".
Nessa decisão, emitida em 24 de abril, o juiz negou um pedido do
Ministério Público Federal (MPF) para que obrigasse o Google a retirar
15 vídeos ofensivos à umbanda e ao candomblé postados no site YouTube.
O episódio começou no início do ano, quando a Associação Nacional de
Mídia Afro levou ao conhecimento do MPF, por meio da Procuradoria
Regional dos Direitos do Cidadão, um conjunto de vídeos veiculados na
internet por meio do site YouTube.
Segundo essas gravações, as religiões de origem africana estão
ligadas ao "mal" e ao "demônio". Um dos vídeos afirma que "não se pode
falar em bruxaria e magia negra sem falar em africano" e outro associa o
uso de drogas, a prática de crimes e a existência de doenças como a
aids a essas religiões.
Embora as opiniões sejam atribuídas a grupos evangélicos, não foi
possível identificar quem publicou ou divulgou essas gravações na
internet.
Para o Ministério Público Federal, esses vídeos disseminam o
preconceito, a intolerância e a discriminação a religiões de origem
africana. Por isso, o órgão enviou recomendação ao Google no Brasil para
que retirasse as gravações da internet. Mas a empresa se negou a
atender o pedido, afirmando que o material divulgado "nada mais é do que
a manifestação da liberdade religiosa do povo brasileiro" e que os
vídeos discutidos não violam as regras da empresa. Diante da postura do
Google, o MPF foi à Justiça para pedir a retirada dos vídeos. Mas o juiz
não atendeu o pedido. "Os vídeos contidos no Google são manifestações
de livre expressão de opinião", afirmou Araújo.
Solidariedade. O procurador da República Jaime
Mitropoulos já recorreu da decisão ao Tribunal Regional Federal da 2.ª
Região. "O ordenamento jurídico brasileiro estabelece que as relações
sociais devem primar pela solidariedade, liberdade de crença e de
religião, pelo respeito mútuo, pela consagração da pluralidade e da
diversidade. A liberdade de expressar crença religiosa ou convicção não
serve de escudo para acobertar violações aos direitos humanos, atacando
ou ofendendo pessoa ou grupo de pessoas", afirma o procurador.
"Realmente, não há uma hierarquia nem um código canônico que oriente
as religiões de origem africana, mas isso não faz com que elas não sejam
religiões. Além de serem religiões, o candomblé e a umbanda são
filosofias de vida e manifestações culturais enraizadas no Brasil",
afirmou Manoel Alves de Souza, presidente da Federação Brasileira de
Umbanda.
Informações: O Estadão
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