12 de fevereiro de 2018

Chuva, protestos e folia marcam a Mudança do Garcia em Salvador


Os relógios marcavam exatamente 12h55 quando uma forte chuva despencou sobre os foliões que, com irreverência, protestavam, dançavam e cantavam no sentido oposto da rua Leovigildo Filgueiras, na tradicionalíssima Mudança do Garcia. O cortejo formado por bandas de samba, sopro e marchinhas, blocos de sindicatos, partidos e entidades civis já passava pela curva que dá acesso à avenida Anita Garibaldi quando a chuva caiu.
Passavam pelo local, àquela altura, o Bloco do Galo, grupos de samba do Recôncavo Baiano, além da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), do Sindicato dos Petroleiros (Sindpetro) e grupos de poesia. “Sem Temer”, dizia uma placa em protesto contra o presidente Michel Temer, chamado de “golpista” em vários cartazes exibidos durante a festa.
“Êta, desgrama! Êta, desgrama!”, gritava a multidão, debaixo d’água, fazendo ‘xurria’ com a situação. As reformas trabalhista, aprovada pelo Congresso Nacional, e da previdência, em vias de ser votada, foram os principais alvos das críticas carnavalescas.
Eleições 2018
Impedido de concorrer às eleições de 2018 após ser condenado em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), e prestes a ser preso, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva também foi figura recorrente nas placas e faixas.
“Lula é ladrão, mas continua sendo a melhor opção”, dizia uma delas, presa a uma bicicleta carregada de equipamentos sonoros. “Sai o PT, entra o PMDB, mas mudança mesmo só a do Garcia”, ironizava outra pintura, transportada pelo mesmo veículo.
O bloco do Psol veio com uma grande faixa contra a reforma previdenciária. Já moradores de Itapuã carregavam uma grande baleia preta com os dizeres “Seu sujeito prefeito, os nativos sabem o jeito, os nativos sabem o jeito. Itapuã perde respeito”.
Desfile oficial
Com o samba no pé ‘comendo no centro’, nem o ‘cacau’ que caiu no Campo Grande foi capaz de desanimar a galera. Interrompendo os desfiles oficiais, a festa do Garcia só liberou a passarela Nelson Maleiro para a passagem de trios por volta de 15h.
Presente desde 9h da manhã, quando bateu um prato de feijão, a funcionária pública Marizete Benites, 49, não para o quadril quieto. Sambava para um lado, quebrava até o chão, pulava com as marchinhas e descia uma ‘breja’ gelada para dentro.
Animada, comemorou mais um ano na folia. “É toda uma vida de Carnaval, sempre vindo para a mudança e encontrando amigos, ex-namorados e até inimigos”, riu, já pelas tantas.
Com uma garrafa de cachaça 51 na mão, contendo apenas dois dedos da ‘branquinha’, o catador de latinha José, que não quis dizer o sobrenome e a idade, também sambava, entre uma requebrada e outra. Molhado da cabeça aos pés, ele procurou esquecer os problemas.
“Carnaval é só uma vez no ano. Depois a gente pensa”, respondeu, num papo puxado pelo repórter, querendo, na hora errada, refletir sobre a desigualdade da festa momesca soteropolitana. “Eu quero é sambar. Já vi um monte de artista aqui esses dias”, disse Seu José.

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